quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Calvino e a falácia da Graça Evanescente



É muito comum em debates as pessoas utilizarem falácias (de forma intencional ou não) para validarem suas opiniões e crenças, e no debate Calvinismo x Arminianismo não seria diferente, ainda mais quando sabemos da total depravação do homem.

Uma das falácias mais utilizadas é a falácia do espantalho. Ela consiste em distorcer a posição/opinião de alguém e contra-argumentar “refutando” esta visão distorcida como se estivesse atacando a posição original.

Por exemplo:



- Charles tem um posicionamento X sobre Z 

- Então Wesley diz que Charles tem o posicionamento Y sobre Z 
- Wesley ataca a posição Y alegando que ela pertence a Charles, e diz que Charles está errado pois Y não pode ser verdade, sendo que Charles nunca defendeu Y e sim X


Estes espantalhos são muito comuns da parte daqueles que tentam denegrir os escritos de João Calvino. Não é muito difícil se encontrar espantalhos como o de que Calvino disse que Deus era autor do pecado (basta ler o comentário do reformador sobre Isaías 45:7, para saber que é mentira); ou que Calvino ensinou que Jesus e Miguel eram a mesma pessoa (basta ler as Institutas, Livro I, Cap. XVIII, pág, 135 e o Capítulo XIV, pág 170-171, para ver que Calvino acreditava que Jesus é Deus e Miguel é um anjo); ou então que Calvino ensinou a teologia da prosperidade; enfim, existem tantos espantalhos sobre Calvino quanto a imaginação do homem pode inventar.

Um espantalho que vem ganhando força no cenário teológico brasileiro é o de que Calvino ensinou uma suposta graça evanescente. Vale a pena destacar que tal termo é estranho aos escritos de Calvino (não aparece em nenhum lugar), e tal falácia é relativamente recente. Ela ganhou certo conhecimento em outubro de 2008 quando o blog Arminian Perspectives publicou a respeito dela, e vem crescendo no Brasil nos últimos anos quando apologistas arminianos a citam como se fosse verdade.

Entre os apologistas arminianos geralmente se encontra a seguinte definição para graça evanescente:

"A Graça Evanescente é a doutrina ensinada por Calvino em que Deus implanta fé nos réprobos, faz com que eles vivam como eleitos, sendo que, por vezes, não há praticamente nenhuma diferença entre os eleitos e os não-eleitos. Isso porque o réprobo, através da graça evanescente, pode, por vários anos produzir frutos."


E para defender tal definição eles alegam que Calvino ensinou isso nas Institutas 3.2.11 e em seu Comentário de Hebreus 6:4.

Vamos agora avaliar tal definição descrita pelos os arminianos e compará-la com os escritos de Calvino, enfatizando as partes onde os arminianos afirmam que Calvino as ensinou.

PARTE 1 - “DEUS IMPLANTA FÉ NELES”

Em nenhum lugar das Institutas existe tal afirmação, pelo contrário, justamente onde os arminianos falam que Calvino ensinou a graça evanescente, ele afirma que a fé é algo próprio dos eleitos, se não vejamos:

“Ainda que os réprobos NÃO SEJAM iluminados à FÉ, nem sintam verdadeiramente a eficácia do evangelho, a não ser aqueles que foram preordenados para a salvação, contudo a experiência mostra que os réprobos são às vezes afetados por sentimento quase semelhante ao dos eleitos, de sorte que, EM SEU PRÓPRIO JULGAMENTO, de fato não diferem em coisa alguma dos eleitos.”(Institutas, Livro III, Capítulo II, parte 11, página 35)


Calvino corretamente diz que os réprobos NÃO TÊM FÉ, mas que eles têm um SENTIMENTO, que no entendimento do RÉPROBO não difere em coisa alguma do eleito.

Observe, que Calvino NÃO DIZ que Deus implantou fé neles, mas que eles têm um sentimento de serem convertidos proveniente de SEU PRÓPRIO JULGAMENTO.

E deve ser ressaltado ainda que Calvino já havia dito anteriormente, que estes simulavam fé, e eram persuadidos a crerem que eram salvos por eles mesmos e não por Deus.

“De sorte que apresentam falaz SIMULAÇÃO de fé não apenas aos olhos dos homens, mas até mesmo sua própria mente. POIS SE PERSUADEM de que a reverência que deferem à Palavra de Deus é realmente piedade, porquanto não consideram haver impiedade, a não ser o manifesto e confesso desrespeito ou desprezo dela.”(Institutas, Livro III, Capítulo II, parte 10, página 34)


Talvez você objete: "Mas Calvino afirma que Deus quem iluminou tais homens". É claro que foi Deus quem iluminou, a bíblia ensina claramente que tudo que se pode conhecer de Deus é porque Ele o manifestou, e note que Deus faz isso para que a humanidade fique indesculpável perante Ele:

“Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis.”
(Romanos 1:19,20)

A este ponto você talvez esteja pensando: "OK, Calvino não ensinou que os réprobos têm uma fé que Deus implantou neles, mas será que esse ensino de que um réprobo pode pensar que é salvo é bíblico?". Claro, basta olharmos Mateus 7:21-23. Muitas pessoas julgavam em seu próprio entendimento serem salvas (afinal em nome de Cristo profetizaram, expulsaram demônios e fizeram muitas maravilhas), mas qual a resposta de Cristo para elas? “NUNCA vos conheci”. Cristo deixa claro que elas NUNCA foram regeneradas ou fizeram parte dos salvos. Essas pessoas sempre praticaram a iniquidade embora achassem em seu próprio julgamento que eram cristãos.

Ainda a respeito da fé Calvino diz que, quando patenteada aos incrédulos, é indigna do título de fé.

“Esta sombra ou imagem de fé, porém, visto ser de nenhuma relevância, por isso é indigna do título de fé.”(Institutas, Livro III, parte 10, página 34)


Portanto o sentimento que o réprobo tem que persuade a si mesmo não deve ser chamada de fé, deste modo Calvino refere-se a tal sentimento, como “fé informe ou fé temporária”.

CONCLUSÃO DA PARTE 1:
Calvino ensinou que os réprobos não possuem fé, mas que eles podem vir a ter um sentimento de crença em Deus e vir a pensar que são de fato cristãos, mas tal sentimento parte de sua própria persuasão e não porque Deus implantou neles.

Vamos analisar agora, a próxima afirmação da definição:

PARTE 2 - “FAZ COM QUE VIVAM COMO OS ELEITOS... NÃO HÁ PRATICAMENTE NENHUMA DIFERENÇA ENTRE OS ELEITOS E OS NÃO ELEITOS”

Chega a ser um tanto quanto absurdo atribuir tal frase a Calvino como sendo um de seus ensinos. Ela não se encontra em nenhum lugar das Institutas e, ao contrário, Calvino mostra (no capítulo II do livro III) diversas diferenças entre os eleitos e os réprobos. O que Calvino corretamente ensinou (como demonstrado acima) é que o réprobo em seu próprio entendimento se persuade a crer que é igual ao eleito. Vejamos:

“De qualquer natureza, porém, que seja esse assentimento, de modo nenhum penetra até o coração, de sorte que aí resida fixo; e ainda que por vezes pareça haver lançado raízes, entretanto essas não são vivas. Tantos recessos de fatuidade tem, de tantos antros de falsidade se enche o coração humano, de tão enganosa hipocrisia é recoberto, que frequentemente ENGANA A SI PRÓPRIO. Compreendam, pois, os que se gloriam de tais aparências e simulacros de fé que, neste aspecto, em nada lucram aos diabos. Aqueles de quem primeiro falamos lhes são de fato muito inferiores, os quais, apalermados, ouvem e compreendem coisas por cujo conhecimento os diabos estremecem [Tg 2:19]; os outros nisto lhes são pares: qualquer que seja a natureza do sentimento de que são tocados, termina, afinal, em terror e consternação.”


Note que aqui Calvino mostra que ter o conhecimento e crer na existência de Deus não implica em fé. Os demônios creem e temem a Deus (Tiago 2:19), então alguém afirmar e se gloriar que acredita na existência de um só Deus, não torna este alguém em eleito. Na verdade, se este indivíduo se gloria neste simulacro de fé, ele engana a si próprio.

Possivelmente o apologista arminiano apele para a seguinte citação a fim de defender que Calvino ensinou que não há diferença entre o eleito e o não-eleito:

“Se, pois, alguém objeta que aos fiéis não se deixa coisa alguma com que estejam seguros e nutram a certeza de sua adoção, respondo que, embora seja grande a semelhança e afinidade entre os eleitos de Deus e os que são dotados por algum tempo de fé transitória.”


Como já mostrado anteriormente, para Calvino o título de fé é somente digno aos eleitos portanto aos réprobos é atribuída a expressão “fé informe ou fé temporária/transitória”. Tal sentimento, que segundo Calvino parte da própria persuasão do homem e não porque Deus implanta neles, muitas vezes levam os réprobos a apresentarem semelhanças em relação aos eleitos, como já mostramos anteriormente. Eles clamaram pelo nome do Senhor, expulsaram demônios, e etc (Mateus 7:21-23), mas veja que em nenhum momento Calvino afirma que eles andarão segundo o fruto do Espírito Santo (Gálatas 5:22-26). Ou seja, Calvino não ensinou que um réprobo viverá conforme o amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança, portanto é impossível dizer que Calvino ensinou que um réprobo viverá igual a um eleito. Pelo contrário, Calvino mostra que há diversas diferenças entre estes grupos:

“Contudo somente nos eleitos viceja aquela confiança que Paulo celebra, de modo que clamem em alta voz: Abba, Pai [Rm 8.15; Gl 4.6]. Portanto, assim como somente aos eleitos Deus regenera para sempre com uma semente incorruptível [1Pe 1.23], de sorte que jamais pereça a semente de vida implantada em seu coração, assim também neles sela solidamente a graça de sua adoção, para que ela seja estável e confirmada. Entretanto, isto de modo algum impede que essa operação inferior do Espírito tenha seu curso até mesmo nos réprobos. Não obstante isto, os fiéis são ensinados a examinar-se a si próprios cuidadosa e humildemente, para que a confiança da carne não se insinue sorrateira em lugar da certeza da fé.”(Institutas, Livro III, parte 11, página 35)


E diz mais ainda acerca dos eleitos:

“Isto, contudo, deve se manter: por mais exígua e débil que a fé seja nos eleitos, entretanto, uma vez que o Espírito de Deus lhes é o seguro penhor e selo de sua adoção [Ef 1:14], jamais se pode apagar de seus corações o que ele neles gravou. Quanto à iluminação dos réprobos, finalmente se dissipa e perece, sem que possamos dizer por isso que o Espírito engana a alguém, pelo fato de que não vivifica a semente que jaz em seu coração, de sorte que permaneça sempre incorruptível como nos eleitos.”(Institutas, Livro III, parte 12, página 36)


CONCLUSÃO DA PARTE 2:
Como podemos observar, Calvino não ensinou que os réprobos vão andar segundo o espírito embora alguns clamem Senhor, Senhor (Mateus 7:21-23), ele faz distinção entre a fé do eleito que parte da vivificação do Espírito Santo, enquanto que o sentimento do réprobo parte de sua própria persuasão.

Continuando, vamos a próxima frase da definição inventada pelos apologistas arminianos.

PARTE 3 - “PODE POR VÁRIOS ANOS PRODUZIR FRUTOS”

Nesta afirmação, vemos mais uma vez o uso claro da falácia do espantalho, observe o que Calvino disse:

“Nego, porém, que eles ou apreendam a vontade de Deus, como é imutável, ou com real constância lhe abracem a verdade; por isso é que se detêm em um sentimento evanescente, como uma árvore, plantada não bastante funda para produzir raízes vivas, seca-se no decurso do tempo, ainda que por alguns anos SIMULE não só flores e folhas, mas até mesmo frutos.”(Institutas, Livro III, Capítulo II, ponto 12, página 36)


Calvino não diz que dão frutos, mas sim que SIMULAM FRUTOS. Ora qualquer pessoa sabe que algo simulado não é real, a exclusão proposital da palavra “simule” demonstra bem o uso da falácia do espantalho.

CONCLUSÃO DA PARTE 3:
Calvino não ensinou que os réprobos dão frutos.

PARTE 4 – OS USOS DA PALAVRA EVANESCENTE

Como demonstrado acima, a expressão “graça evanescente” não aparece nas Institutas, nem a definição dada a tal graça é condizente com os ensinos de Calvino, portanto se caracterizando como a falácia do espantalho. Entretanto, esta parte do texto foi reservada para avaliar e analisar o que Calvino ensinou nos momentos em que aparece a palavra evanescente.

Vamos aos locais que ela aparece:

“Porque nada impede que Deus ilumine a alguns com o senso de sua presente graça, SENSO que mais tarde se desvanece.”“Por isso é que se detêm em um SENTIMENTO evanescente, como uma árvore, plantada não bastante funda para produzir raízes vivas, seca-se no decurso do tempo.”“Portanto, no réprobo há aquele CONHECIMENTO que mais tarde se desvanece, seja porque ele estende suas raízes com menos profundidade do que se espera, ou porque, ao crescer, é sufocado e murcha.”(Trechos do comentário de Calvino acerca de Hebreus 6:4)


Como o caro leitor pode observar, Calvino não atribui o esvanecer à graça salvadora de Deus. Em nenhum lugar ele diz que a graça salvadora de Deus esvaneceu. O que Calvino corretamente coloca como evanescente é o SENSO DO SENTIMENTO DE CONHECIMENTO acerca de Deus.

Mas seria tal ensino bíblico?

Simples, vejamos a parábola utilizada por Calvino para explicar tal ensino:

“O que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria. Mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se ofende."
(Mateus 13:20-21)

Aqui vemos um réprobo, que ouve (senso) a palavra de Deus (conhecimento) e que recebe esse senso com alegria (sentimento), mas por sua culpa é de pouca duração (esvanesce).

Jesus ensinou claramente que alguns réprobos (que não são terrenos férteis e sim pedregosos)vão ouvir a palavra, vão recebe-la com alegria (sentimento), mas vão deixar este sentimento acabar, se esvanecer. E isso não tem nada de graça evanescente, e muito menos conforme a definição dada pelos arminianos, são as palavras verdadeiras de Cristo, nosso Salvador.

CONCLUSÃO FINAL

A verdade é que tal expressão “graça evanescente” não aparece em nenhum lugar das Institutas nem tampouco em seus comentários bíblicos. Tal expressão foi criada por arminianos, bem como sua definição que não somente apresenta uma visão distorcida dos ensinos de Calvino, mas vai contra os escritos do reformador. Portanto, aqui podemos ver claramente mais uma falácia do espantalho desenvolvida com o objetivo de denegrir a imagem de Calvino.




sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Deveria as igrejas ensinarem a dar Dízimos e Primícias? - Conclusões de um Teólogo sobre uma doutrina que é Tabu


Entregar dízimo não é uma doutrina cristã



Introdução

Este ensaio é um resumo do meu livro “Should the Church Teach Titing? - A Theologian’s Conclusions About a Taboo Doctrine” (Deveria a Igreja Ensinar a Dizimar? - Conclusões de um Teólogo Sobre Uma Doutrina Tabu). O próprio livro é uma versão ampliada de minha tese de Ph.D. Desafio os mestres da Bíblia a ousarem abrir em seus seminários uma pesquisa que promova estudos sobre este assunto, aos níveis de Master, Doctorate e Ph.D. Realmente, esta doutrina é importante demais para ser tão ignorada!
Em muitas igrejas, hoje em dia, a doutrina de dizimar tem atingido o nível de escândalo moderno. Conquanto, por outro lado, os livros textos, a nível de seminário sobre Hermenêutica, e os teólogos omitam o dizimar, por outro lado a prática tem se tornado rapidamente uma exigência aos membros da igreja, nas várias denominações que insistem em dizer que estão embasadas nas sólidas doutrinas da Bíblia. Existe ainda uma crescente evidência de que os leigos que questionam a legitimidade do dizimar na Nova Aliança, são em geral criticados como criadores de casos ou taxados de cristãos imaturos [Esta é comigo mesmo!].

O Dizimar moderno baseia-se em falsas premissas - A declaração de uma denominação sobre mordomia é típica do que muitas outras ensinam sobre o dízimo. Ela diz que “Dizimar é o modelo bíblico e o ponto inicial que Deus tem estabelecido e que não deve ser substituído nem comprometido por nenhum outro modelo”. Ela acrescenta que o dízimo deve ser entregue a partir da renda bruta, o qual é devido à igreja, antes dos impostos.
Os seguintes pontos deste ensaio vão contestar os ensinos usados para estruturar o dízimo com o que realmente diz a Palavra de Deus.

Ponto #1 - Os princípios de dar no Novo Testamento, na 2 Coríntios 8 e 9 são superiores ao dizimar.

O falso ensino é que dizimar é uma exigência obrigatória, a qual sempre precede o dar voluntariamente. O dar voluntariamente precedia o dizimar.

Os seguintes princípios de dar voluntariamente na Nova Aliança estão fundamentados na 2 Coríntios 8 e 9(1). Dar é uma “graça”. A 2 Coríntios 8 usa oito vezes a palavra “graça”, referindo-se à ajuda aos santos pobres (2).Dar primeiro a Deus (8:5). (3). Dar-se a si mesmo para conhecer a vontade de Deus (8:5) (4). Dar em resposta ao dom de Cristo (8:9 e 9:15). (5). Dar com desejo sincero (8:8, 10, 12 e 9:7) (6). Não dar por causa de mandamento algum (8:8,10; 9:7). (7). Dar além de sua capacidade (8:3, 11, 12) (8). Dar para produzir igualdade. Isso que dizer que os que têm mais devem dar mais, a fim de suprir a incapacidade dos que não podem dar mais (8:12,14) (9).Dar com alegria (8:2). (10). Dar porque está crescendo espiritualmente (8:3,4,7). (11). Dar porque deseja crescer espiritualmente (9:8, 10, 11). (12). Dar porque está ouvindo o Evangelho ser pregado (9:13).

Ponto #2 - Na Palavra de Deus o dízimo é sempre apenas em alimento.

O falso ensino é que os dízimos bíblicos incluem todas as fontes de renda.

Não usem o Dicionário de Webster. Usem a Palavra de Deus para definir a palavra “dízimo”. Abram uma boa “Concordância Bíblica”. Vocês vão descobrir que a definição usada pelos advogados do dízimo está errada. Na Palavra de Deus o vocábulo “dízimo” não aparece sozinho. Embora já existisse dinheiro, a substância do dízimo divino jamais foi dinheiro. Ele era o “dízimo do alimento”. Isso é muito importante. ** Os verdadeiros dízimos bíblicos eram sempre somente o alimento proveniente das fazendas e rebanhos, somente dos israelitas que vivessem exclusivamente dentro da Terra Santa de Deus, as fronteiras nacionais de Israel ** A fartura provinha da mão de Deus e não da manufatura ou habilidade do homem.
Existem 15 versos de 11 capítulos e 8 livros, de Levítico 27 a Lucas 11, que descrevem o conteúdo do dízimo. E o conteúdo jamais, repito, jamais incluía dinheiro, prata, ouro ou qualquer outra coisa, além de alimento. Mesmo assim, a definição incorreta de “dizimar” é a maior mentira que está sendo pregada sobre esse ato, hoje em dia. (Vejam Levítico 27:30,32; Números 18:27,28; Deuteronômio 12:17; 14:22, 23, 26; 2 Crônicas 31:5; Neemias 10:37; 13:5; Malaquias 3:10; Mateus 23:23 e Lucas 11:42).

Ponto #3 - O dinheiro era um item essencial ...

A falsa premissa é que troca de alimentos substituía o dinheiro.

Um argumento de apoio para o dízimo não ser dado em alimentos é que o dinheiro não era amplamente disponível e a troca de alimentos deve ter sido usada para a maioria das transações. Este argumento não é bíblico. Somente o Livro de Gênesis contém “dinheiro” em 32 textos e a palavra acontece 44 vezes, antes que o dízimo fosse mencionado pela primeira vez, em Levítico 27. A palavra “dinheiro” também aparece muitas vezes de Gênesis a Deuteronômio.
De fato, séculos antes de Israel ter entrado em Canaã, e começado a dizimar os alimentos da Terra Santa de Deus, o dinheiro já era um item essencial no dia a dia. Por exemplo, o dinheiro em forma de moedas de prata pago pelos escravos (Gênesis 17:12 +), pela terra (Gênesis 23:9 +), pela liberdade (Êxodo 23:11); multas da lei (Todo o Êxodo 21 e 22); dívidas do Santuário (Êxodo 30:12); votos (Levítico 27:3-7); taxas de pesquisa (Números 3:47+), bebidas alcoólicas (Deuteronômio 14:26) e dotes de casamento (Deuteronômio 22:29).
Conforme Gênesis 47:15-17, os alimentos eram usados para troca somente depois que o dinheiro acabava. As leis bancárias e sobre a usura existem na Palavra de Deus em Levíticos, antes do dízimo. Desse modo, é falso o argumento de que o dinheiro não prevalecia sensivelmente no dia a dia. Mesmo assim, o conteúdo dos dízimos jamais incluía dinheiro dos produtos não alimentícios nem dos negócios.

Ponto #4 - O dízimo de Abraão a Melquisedeque se embasou numa tradição pagã.

O falso ensino é que Abraão deu voluntariamente o dízimo porque foi essa a vontade de Deus.

Contudo, pelas seguintes razões, Gênesis 14:20 não pode ser usado como exemplo para os cristãos dizimarem:

1 - A Bíblia não diz que Abraão deu “voluntariamente” esse dízimo.
2 - O dízimo de Abraão não foi um dízimo santo, da Terra Santa de Deus, produzido pelo povo santo de Deus.
3 - O dízimo de Abraão foi do espólio de guerra, o que era comum a muitas nações.
4 - Em Números 31, Deus exige apenas 1% dos espólios de guerra.
5 - O dízimo de Abraão a Melquisedeque aconteceu apenas uma vez e Abraão mudava sempre de lugar.
6 - O dízimo de Abraão não proveio de sua riqueza pessoal.
7 - Abraão nada conservou para si mesmo, tendo devolvido tudo.
8 - O dízimo de Abraão não é mencionado em nenhuma parte da Bíblia, a fim de respaldar o ato de dizimar.
9 - Gênesis 14:21 é o texto chave. Visto como muitos comentários explicam o verso 21 como exemplo da tradição pagã árabe, é uma contradição explicar os 90% do verso 21 como pagãos, ao mesmo tempo insistindo-se em que os 10% do verso 20 eram a vontade de Deus.
10 - Se Abraão serve de exemplo para o cristão dar 10% a Deus, então deveria também ser um exemplo para ele dar os restantes 90% a Satanás, ou ao Rei de Sodoma!
11 - 0 Visto como nem Abraão nem Jacó tinham um sacerdócio levítico para manter, eles não tinham lugar algum onde entregar os dízimos, durante os seus muitos movimentos.

Ponto #5 - Dizimar não era o mínimo exigido de todos os Israelitas da Antiga Aliança

O falso ensino é que todos deveriam começar a dar no mínimo 10%.

Somente dos israelitas que tiravam o seu sustento de suas fazendas e da pecuária dentro de Israel era exigido que dizimassem segundo a Lei de Moisés. Sua prosperidade provinha da mão de Deus. Daqueles cuja prosperidade provinha da própria mão de obra e do seu artesanato o dízimo não era exigido em produto, nem em dinheiro. Os pobres e necessitados que não dizimavam, mas recebiam dízimos, esses davam ofertas voluntárias.

Ponto #6 - Os Primeiros Dízimos eram recebidos pelos servos dos sacerdotes.

O falso ensino é que os sacerdotes do Velho Testamento recebiam todo o primeiro dízimo.

A verdade é que o dízimo “completo”, o primeiro dízimo, não ia para os sacerdotes, de modo algum. Em vez disso, conforme Números 18:21-24 e Neemias 10:37, ele ia para os servos dos sacerdotes, os levitas. Em seguida, conforme Números 18:25-28 e Neemias 10:38, os levitas davam o “melhor décimo” desses dízimos (1%) recebidos aos sacerdotes que ministravam os sacrifícios pelos pecados e serviam dentro dos locais sagrados. Os sacerdotes não dizimavam pessoalmente, de modo algum.
É também importante saber que em troca de receber, esses dízimos, tanto os levitas como os sacerdotes perdiam todo o direito à herança permanente da terra dentro de Israel (Números 18:20-26; Deuteronômio 12: 12; 14:27, 29; 18:1-2; Josué 13:14, 33; 14:3; 18:7; Ezequiel 44:28). Os levitas que recebiam o primeiro dízimo eram proibidos de ministrar os sacrifícios de sangue, sob pena de morte (Números 18:3). Não há continuação dessa ordenança na Nova Aliança.

Ponto #7 - A frase: “É santo ao Senhor” não torna o dízimo um eterno princípio moral.

O falso ensino é que Levítico 27:30-32 prova que o dízimo é um “eterno princípio moral” porque “ele é santo do Senhor”.

Contudo, os mestres do dízimo devem ignorar a frase mais forte “ele é santíssimo ao Senhor”, nos imediatos versos precedentes: 28 e 29. Isso porque os versos 28 e 29 não são definitivamente “eternos princípios morais” na igreja. Em seu contexto, as frases “É santo ao Senhor” e “é santíssimo ao Senhor” não podem ser interpretadas como “eternos princípios morais”. Por que? Porque quase qualquer outro uso desta frase em Levítico foi há muito descartado pelos cristãos. Frases semelhantes são também usadas para descrever todos os festivais, ofertas sacrificais, distinção entre alimentos puros e impuros, os sacerdotes da Antiga Aliança e o santuário da antiga Aliança.

Ponto #8 - As primícias não são a mesma coisa que os Dízimos

A falsa premissa é que os dízimos são as primícias.

As primícias equivaliam à pequena porção da primeira colheita realizada e dos primogênitos dos animais. Elas eram tão pequenas que cabiam numa cesta manual (Deuteronômio 26:1-4, 10; Levítico 23:17; Números 18:1317; 2 Crônicas 31:5-a). As ofertas das primícias e dos primogênitos iam diretamente para o Templo, com a exigência de serem consumidas pelos sacerdotes ministradores, somente dentro do Templo (Neemias 10:35-37-a; Êxodo 23:19; 34-26; Deuteronômio 18:4).
Todo o dízimo levítico ia primeiro para as cidades levíticas e porções deste iam para o Templo, a fim de alimentar os sacerdotes que estavam ministrando em rodízio. (Neemias 10:37b-39; 12:27-29; 44-47; Números 18:21-28; 2 Crônicas 31:5-b) Enquanto os levitas comiam o dízimo, os sacerdotes também podiam comer das primícias, dos primogênitos e de outras ofertas.

Ponto #9 - Existem na Bíblia quatro tipos diferentes de Dízimos.

O falso ensino ignora todos os outros dízimos e focaliza somente a parte do primeiro dízimo religioso.

Na realidade, o primeiro dízimo religioso chamado o “Dízimo Levítico” tinha duas partes. Novamente todo o primeiro dízimo era dado aos levitas, os quais eram apenas servos dos sacerdotes (Números 18:21-24; Neemias 10:37). Por sua vez, os levitas davam 1/10 de todos os dízimos aos sacerdotes (Números 18:25-28; Neemias 10:38). Conforme Deuteronômio 12 e 14, o segundo dízimo religioso, chamado o “Dízimo de Festa”, era comido pelos adoradores, nas ruas de Jerusalém, durante os três festivais anuais (Deuteronômio 12:1-19; 14:22-26). E conforme Deuteronômio 14 e 26, o terceiro dízimo, chamado o “dízimo dos pobres” guardado nas casas, a cada três anos, era usado para alimentar os pobres (Deuteronômio 14:28-29; 26:12-13).
Ainda conforme o 1 Samuel 8:14-17, o Rei coletava o primeiro e o melhor 10% para uso político. Durante o tempo de Jesus, Roma coletava os primeiros 10% da maior parte dos alimentos e 20% da colheita de frutas como espólio de guerra.
É de admirar que as igrejas estejam tentando omitir isso, quando falam somente de um dízimo religioso, simplesmente porque este se encaixa melhor em seus propósitos, ignorando os outros dois importantes dízimos religiosos.
Outro erro comum é equacionar o dízimo com “as primícias”, ou até mesmo com “o melhor”. Enquanto o dízimo do dízimo (1%) que era dado aos sacerdotes, era “o melhor” do que os levitas recebiam, o dízimo que os levitas recebiam era 1/10, mas não necessariamente o “o melhor”. (Levítico 27:32,33). Também, enquanto as primícias e o primogênito de cada animal puro eram levados diretamente ao Templo, o dízimo era entregue diretamente nas cidades levíticas (Neemias 10:35-38).
Segundo alguns historiadores, “as primícias” eram ofertas extremamente pequenas. Em geral “as primícias” de uma vila inteira podiam ser carregadas em um único animal.

Ponto #10 - Jesus, Pedro, Paulo e os pobres não dizimavam.

O falso ensino é que de todo mundo no Velho Testamento era exigido que trouxesse sua oferta a Deus a nível de 10%.

Na realidade nenhum dízimo era exigido dos pobres. Nem também provinha o mesmo das mãos do artesão ou do seu ofício. Somente os fazendeiros e pecuaristas possuíam o que era definido como ganho ao dízimo. Jesus era carpinteiro; Paulo era artesão de tendas e Pedro era pescador. Nenhuma dessas ocupações os qualificava como pagadores do dízimo, visto como não cultivavam a terra nem possuíam rebanhos para o seu sustento. Desse modo, é incorreto ensinar que todo mundo pagava a exigência mínima de um dízimo e, então, que dos cristãos da Nova Aliança deveria ser exigido, apenas para início, esse mesmo mínimo da Velha Aliança dos israelitas. Esta afirmação é comumente repetida nas igrejas, ignorando completamente a exata definição do dízimo como alimento obtido nas fazendas e no aumento dos rebanhos.
Também é errado ensinar que era exigido dos pobres de Israel que estes pagassem o dízimo. Na verdade, eles até recebiam dízimos. Boa parte do dízimo dos festivais era entregue aos pobres. De fato, muitas leis protegiam os pobres do abuso dos sacrifícios dispendiosos, para os quais eles não podiam ofertar. (Vamos ler Levítico 14:21; 25:6,25-28,35,36; 27:8; Deuteronômio 12:1-19; 14:23,28-29; 15:7,8,11; 24:12,14,15,19,20; 26:11-13; Malaquias 3:5; Mateus 12:1,2; Marcos 2:23-24; Lucas 2:22-24; 6:1-2; 2 Coríntios 8:12-14; 1 Timóteo 5:8; Tiago 1:27).

Ponto #11 - Os dízimos eram muitas vezes usados como impostos políticos.

O falso ensino é que os dízimos nunca são comparados aos impostos ou taxas.

Contudo, na economia hebraica, o dízimo era usado de maneira totalmente diferente da que hoje é pregada. Mais uma vez, os levitas que recebiam o dízimo inteiro nem sequer eram ministros ou sacerdotes - eles eram apenas servos dos sacerdotes. Números 3 descreve os levitas como sendo carpinteiros, fundidores de metal, artesãos de couro e artistas, que mantinham o pequeno santuário. E segundo Crônicas 23-27, durante o tempo dos reis Davi e Salomão, os levitas também foram peritos artesãos, os quais inspecionavam as obras do Templo. Vinte e quatro mil deles trabalhavam no Templo como construtores e supervisores; seis mil eram oficiais e juízes; quatro mil eram guardas e quatro mil eram músicos.
Como representantes políticos do rei, os levitas usavam o seu dízimo para servir aos oficiais, juízes, coletores de impostos, tesoureiros, guardas do Templo, músicos, padeiros, cantores e soldados profissionais (1 Crônicas 12:23,26; 27:5). É obvio que esses exemplos do uso bíblico da entrada do dízimo nunca se tornam exemplos para a igreja de hoje.
É importante saber que na Antiga Aliança os dízimos nunca eram usados para evangelizar os não israelitas. Neste ponto o dízimo falhou. Vejam Hebreus 7:12-19. Os dízimos jamais estimularam os levitas e sacerdotes da Antiga Aliança a estabelecer uma única missão fora do país, para encorajar um só gentio a se tornar israelita (Êxodo 23:32; 34:12,15; Deuteronômio 7:2).
O dízimo da Antiga Aliança era motivado e exigido por lei, não pelo amor. De fato, durante a maior parte da história de Israel, os profetas foram os principais portadores da Palavra de Deus e não os levitas e os sacerdotes que recebiam o dízimo.

Ponto #12 - Os dízimos levíticos eram normalmente levados às cidades levíticas.

Os falsos mestres querem que pensemos que todos os dízimos eram levados ao Templo e que agora devem ser levados ao armazém do edifício eclesiástico.

O dízimo inteiro jamais foi para o Templo. Na realidade, a extraordinária maioria dos dízimos levíticos jamais foi para o Templo. Os que ensinam o contrário ignoram as cidades levíticas e as 24 localidades dos levitas e sacerdotes. Conforme Números 35, Josué, 20, 21 e 1 Crônicas 6, os levitas e os sacerdotes residiam nas cidades levíticas, em terras emprestadas, onde cultivavam o solo e criavam os animais dizimáveis. Está claro em Números 18:20-24; 2 Crônicas 31:15-19 e Neemias 10:37, que do povo comum esperava-se que trouxesse dízimos às cidades levíticas. Por que? Porque lá vivia a grande maioria dos levitas e sacerdotes com suas famílias, a maior parte do tempo. Vejam também Neemias 13:9.

Ponto #13 - Malaquias 3 é o texto do qual mais se tem abusado na Bíblia sobre o dízimo.

O falso ensino sobre os dízimos em Malaquias ignora cinco fatos importantes da Bíblia.

1. - Malaquias é contexto da Antiga Aliança e nunca é citado na Nova Aliança para a Igreja (Levítico 27:34; Neemias 10:28-29; Malaquias 3:7; 4:4).
2. - Malaquias 1:6; 2:1 e 3:1-5 são muito claramente endereçados aos sacerdotes desonestos, os quais são amaldiçoados porque haviam roubado as melhores ofertas de Deus.
3. - As cidades levíticas devem ser consideradas, enquanto Jerusalém nunca foi uma cidade levítica (Josué 20, 21). Não faz sentido algum ensinar que 100% dos dízimos eram levados ao Templo, quando a maioria dos levitas e sacerdotes não morava em Jerusalém.
4. - Em Malaquias 3:10-11, os dízimos ainda são apenas alimentos (Levítico 27:30-33).
5. - As 24 localidades residenciais dos levitas e sacerdotes também devem ser levados em conta.
Começando com os Reis Davi e Salomão, eles foram divididos em 24 famílias. Essas divisões também continuavam a vigorar no tempo de Malaquias, com Esdras e Neemias. Visto como normalmente apenas uma família servia ao Templo e por uma semana da cada vez, não havia, absolutamente, qualquer razão para que todos os dízimos fossem enviados ao Templo, quando 98% daqueles a quem se destinavam como alimento ainda se encontravam nas cidades levíticas (1 Crônicas 24:26; 28:13,21; 2 Crônicas 8:14; 23:8; 31:2, 15-19; 35:4-5,10; Esdras 6:18; Neemias 11:19,30; 12:24; 13:9-10; Lucas 1:5).
Desse modo, quando o contexto das cidades levíticas, as 24 famílias dos sacerdotes, os filhos menores, as viúvas, Números 18:20-28, 2 Crônicas 31:15-19, Neemias 10-13 e todo o livro de Malaquias são avaliados, vemos que apenas 2% do total do primeiro dízimo eram normalmente exigidos no Templo de Jerusalém.
Tanto a bênção como a maldição de Malaquias 3:9-11, perduraram somente até o término da Antiga Aliança, ou seja, até o Calvário. A audiência de Malaquias havia voluntariamente reafirmado a Antiga Aliança (Neemias 10:28-29. “Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo. E todo o povo dirá: Amém”(Deuteronômio 27:26, citado em Gálatas 3:10). E Jesus Cristo deu um fim a essa maldição, conforme Gálatas 3:13: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”.
Hoje em dia, a classe mais pobre é a que mais contribui para beneficência. E, mesmo assim, ela permanece na pobreza. A loteria e os dízimos não são uma garantia para alguém enriquecer depressa, em vez da educação, da determinação e do árduo trabalho. Se Malaquias 3:10 funcionasse realmente com os cristãos da Nova Aliança, nesse caso milhões de cristãos dizimistas já teriam escapado da pobreza e se tornado o grupo mais rico do mundo, em vez de continuar sendo pobre. Portanto, não existe evidência alguma de que a vasta maioria dos pobres “pagadores do dízimo” tenha sido abençoada pelo mero fato de o entregar. As bênçãos da Antiga Aliança já não estão em efeito (Hebreus 7:18-19; 8:6-8, 13).

Ponto #14 - O dízimo não é ensinado no Novo Testamento.

O falso ensino é que Jesus ensinou a dizimar, em Mateus 23:23, dizendo que isso está claro no Novo Testamento.

A Nova Aliança não teve princípio no nascimento de Jesus, mas na Sua morte (Gálatas 3:19, 24, 25; 4:4). O dízimo não é ensinado na igreja, depois do Calvário. Quando Jesus falou sobre o assunto em Mateus 23:23, Ele estava simplesmente ordenando a obediência às leis da Antiga Aliança, a qual ele endossou e obedeceu até chegar ao Calvário. Em Mateus 23:23, Ele mandou que os judeus obedecessem aos escribas e fariseus, porque estes se assentavam na cadeira de Moisés. Por acaso Ele ordenou que os gentios por Ele curados comparecessem diante dos sacerdotes judeus?
Não existe um único texto do Novo Testamento que ensine a dizimar, após o período do Calvário. Atos 2:42-47 e 4:32-35 não são exemplos para se dizimar, a fim de sustentar os líderes da igreja. Conforme Atos 2:46, os cristãos judeus continuavam a adorar no Templo. E conforme Atos 2:44 e 4:33,34, os líderes da igreja compartilhavam igualmente o que recebiam com todos os membros da igreja (o que hoje não se faz). Finalmente, Atos 21:20-25, prova que os cristãos judeus ainda observavam fielmente toda a Lei de Moisés - até 30 anos depois - devendo aí ser incluído o dizimar, pois se não o fizessem, não poderiam ter permissão de entrar no Templo para adorar. Desse modo, todos os dízimos coletados pelos primeiros cristãos judeus eram para o sustento do Templo e não para sustentar a igreja.

Ponto #15 - Os limitados sacerdotes da Antiga Aliança foram substituídos por todos os crentes-sacerdotes [1 Pedro 2:5].

O falso ensino é que os anciãos e pastores da Nova Aliança estão simplesmente continuando de onde os sacerdotes da Antiga Aliança deixaram e por isso devem receber o dízimo.

Comparem Êxodo 19:5, 6 com a 1 Pedro 2:9-10. Antes do incidente do bezerro de ouro, Deus havia pretendido que todo israelita se tornasse um sacerdote e o dízimo jamais foi mencionado. Os sacerdotes não dizimavam, mas recebiam 1/10 do primeiro dízimo (Números 18:26-28 e Neemias 10:37-38).
A função e o propósito dos sacerdotes da Antiga Aliança foram substituídos, não pelos anciãos e pastores, mas pelo sacerdócio de todos os crentes. Como outras ordenanças da Lei, o dízimo foi apenas uma sombra temporária, até a vinda de Cristo (Efésios 2:14-16; Colossenses 2:13-17; Hebreus 10:1). Na Nova Aliança cada crente é um sacerdote de Deus (1 Pedro 2:9-10; Apocalipse 1:6; 5:10). E como sacerdote cada crente oferece sacrifícios a Deus (Hebreus 4:16; 10:19-22; 13:15-16). Então, cada ordenança que havia sido previamente aplicada ao antigo sacerdócio foi anulada no Calvário. Visto não pertencer à Tribo de Levi, até mesmo Jesus Cristo foi desqualificado. Desse modo, o propósito original de dizimar já não existe (Hebreus 7:12-19; Gálatas 3:19, 24, 25; 2 Coríntios 3:10).

Ponto #16 - A Igreja da Nova Aliança não é um edifício nem um armazém.

O falso ensino é que os edifícios cristãos chamados “igrejas”, “tabernáculos” ou “templos”, substituíram o Templo do Velho Testamento como locais de habitação divina.

A Palavra de Deus jamais descreve os grupos da Nova Aliança como ”tabernáculos”, “templos” ou “edifícios”. Os cristãos não “vão à igreja”. Eles se “reúnem para adorar”. Também, visto que os sacerdotes do Velho Testamento pagavam o dízimo, então, logicamente, o dízimo não pode continuar. Nesse caso, é errado chamar um edifício de “armazém do Senhor” para receber os dízimos (1 Coríntios 3:16-17; 6:19-20; Efésios 1:22-23; 2:21; 4:12-16; Apocalipse 3:12). Com respeito à palavra “armazém” comparem a 1 Coríntios 16:2 com a 2 Coríntios 12:14 e Atos 20:17, 32-35. Durante vários séculos após o Calvário, os cristãos nem mesmo possuíam um edifício próprio (que chamassem de armazém), visto como o Cristianismo era uma religião ilegal.

Ponto #17 - A Igreja cresce quando usa os melhores princípios da Nova Aliança.

O falso ensino é que os princípios de dar graças não são tão bons como os princípios do dizimar na Antiga Aliança.

Sob a Nova Aliança:

1 - Conforme Gálatas 5:16-23, não existe lei física que possa controlar o fruto do Espírito Santo [Infelizmente o Espírito Santo é Quem mais tem sofrido nas igrejas neopentecostais, que o transformaram num office-boy, o qual tem “obrigação” de descer quando invocado e de fazer tudo que os pastores semi-bíblicos e os crentes imaturos dessas igrejas acham por bem exigir dEle. Essas pessoas mal conhecedoras da Bíblia se comportam com o Espírito Santo exatamente como os feiticeiros se comportam com os maus espíritos].
2 - A 2 Coríntios 3:9-10 ensina: “Se o ministério da condenação [Antiga Aliança] foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça [Nova Aliança]. Porque também o que foi glorificado nesta parte não foi glorificado, por causa desta excelente glória”.
3 - Hebreus 7 apenas faz a menção pós-Calvário de dizimar, numa explanação de porque o sacerdócio levítico deve ser substituído pelo sacerdócio de Cristo, porque aquele era fraco e ineficiente. Estudem Hebreus 7 e sigam a progressão do verso 5 ao verso 12 e ao verso 19.
4 - A maneira pela qual o dízimo é hoje ensinado reflete o fracasso da igreja em crer e agir segundo os muito melhores princípios do amor, da graça e da fé. O princípio do dízimo obrigatório não pode nem poderia ter sido mais próspero à igreja do que os princípios guiados pelo verdadeiro amor a Cristo e às almas perdidas (2 Coríntios 8:7-8). [Se o dízimo fosse usado para sustentar os missionários, as viúvas pobres e os órfãos, ele seria um princípio de amor e graça, mas, infelizmente, ele é usado hoje em dia para comprar aparelhos de som e para outros fins nada cristãos...]

Ponto #18 - O Apóstolo Paulo preferia que os líderes da igreja se auto-sustentassem.

O falso ensino é que Paulo ensinou e praticou o dízimo.

Nada poderia estar mais longe da verdade. Como um rabino judeu, Paulo estava entre os que insistiam em trabalhar com as próprias mãos pelo seu sustento (Atos 18:3; 1 Tessalonicenses 2:9-10; 2 Tessalonicenses 3:8-14). Embora ele não tenha condenado os que recebiam sustento pela obra em tempo integral, também não ensinou que tal sustento fosse ordenado por Deus, para difusão do Evangelho. (1 Coríntios 9:12). De fato, duas vezes em Atos 20:29, 35 e também na 2 Coríntios 12:14, ele até mesmo encoraja os anciãos da igreja a trabalharem para manter os necessitados da igreja [Eu só queria ver um dos pastores atuais trabalhando para ajudar os pobres da igreja!].
Para Paulo, a expressão “viver do evangelho” significava “viver segundo os princípios da fé, do amor e da graça” (1 Coríntios 9:14). Conquanto verificasse ter “direito” a alguma ajuda, ele concluía que a “liberdade” de pregar o seu evangelho era mais importante, a fim de cumprir a sua vocação de Deus (1 Coríntios 9:15; 11:7-13; 12:13,14; 1 Tessalonicenses 2:5-6). Enquanto trabalhava como artesão de tendas, Paulo aceitou uma certa ajuda, porém se gloriava de que o seu pagamento ou salário era o fato de poder pregar livremente, sem se tornar um fardo para os outros (1 Coríntios 9:16-19).

Ponto #19 - O dízimo não se tornou uma leia na igreja, até o Ano 777 d.C.

O falso ensino é que a igreja histórica sempre ensinou o dízimo.

Até mesmo em Atos 21:20-26, algumas décadas após o Calvário, os primeiros cristãos judeus em Jerusalém continuavam seguindo fielmente a lei da Antiga Aliança e ainda adoravam e ajudavam a manter o templo judaico. Como eles eram judeus obedientes, a lógica nos força a concluir que eles continuavam a entregar os dízimos dos alimentos colhidos ao sistema do Templo.
Conquanto discordando dos seus próprios teólogos, muitos historiadores da igreja escrevem que o dízimo não se tornou uma doutrina aceita na igreja, durante mais de 700 anos após o Calvário. Os antigos pais da igreja, antes de 321 d.C. (quando Constantino tornou o Cristianismo uma religião legal) se opunham ao dízimo, considerando-o uma doutrina puramente judaica. Clemente de Roma (Ano 95), Justino Mártir (150), o Didaquê (150-200) e Tertuliano (150-220) se opunham ao dízimo. Até mesmo Cipriano (200-258) rejeitou a introdução do dízimo incluído na distribuição aos pobres.
De fato, os antigos líderes da igreja praticavam o ascetismo. Isso quer dizer que ser pobre era a melhor maneira de servir a Deus. Eles copiavam sua adoração conforme as sinagogas judaicas, as quais tinham rabinos que se auto-sustentavam, recusando-se a receber dinheiro para ensinar a Palavra de Deus (Ver Schaff - “History of Christian Church”, vol. 2, 63, 128, a98-200, 428-434).
Segundo os melhores historiadores e enciclopédias, 500 anos se passaram até que a igreja, no Concílio de 585, tentasse, sem sucesso algum, forçar os seus membros a dizimar. Mas não foi antes de 777 d.C. que o Imperador Carlos Magno permitiu legalmente que a igreja coletasse dízimos [É claro que a Igreja de Roma, a qual coroou Carlos Magno, foi quem ressuscitou o dízimo, por causa da sua desmedida ganância por riqueza material].

Conclusão

Na Palavra de Deus o vocábulo ”dízimo” não aparece sozinho. Ele é sempre “o dízimo do alimento”. O dízimo bíblico era muito estritamente definido e limitado pelo próprio Deus.

Os verdadeiros dízimos bíblicos sempre eram:
- Apenas em alimentos.
- Somente de fazendeiros e pecuaristas.
- Somente dos israelitas.
- Somente de quem vivia dentro da Terra Santa de Deus, das fronteiras nacionais de Israel.
- Somente sob os termos da Antiga Aliança.
- A fartura só poderia provir da mão de Deus.

Por conseguinte:

- Itens não alimentícios não podiam ser dizimados.
- Animais limpos caçados e peixes não podiam ser dizimados.
- Os não israelitas não podiam dizimar.
- Alimentos que viessem de fora da Terra Santa de Deus não podiam penetrar no Templo.
- O dízimo legítimo não acontecia quando não houvesse o sacerdócio levítico.
- O dízimo não podia provir do que fosse fabricado pelas mãos do homem, produzido ou apanhado na pesca.


Convido os líderes de igrejas para uma discussão aberta sobre este assunto. O estudo cuidadoso em oração da Palavra de Deus é essencial ao crescimento da igreja. Que Deus os abençoe neste estudo. (Eu os encorajo a copiar e distribuir este artigo)


Should the Church Teach Tithing?
A Theologian's Conclusions about a Taboo Doctrine
Russell Earl Kelly, PHD

sábado, 13 de fevereiro de 2016

“Fiz-me fraco para com os fracos” – Até que ponto? A Hermenêutica e o Carnaval


Uma das músicas da Cláudia Leite, ex-vocalista do Babado Novo, diz que “carnaval... não mata, não engorda e nem faz mal”. Para os foliões não há nada de mais verdadeiro do que isso. Aliás, alguém disse que, no Brasil, o ano só começa mesmo depois do carnaval. Se vai ser em fevereiro ou março pouco importa. Da Marquês de Sapucaí às Ladeiras de Olinda; dos blocos de rua de São Luis do Paraitinga ao célebre Galo da Madrugada (o maior bloco de carnaval do mundo, segundo o Guiness Book) em Recife, o brasileiro “vai na fé”, sem morrer ou engordar.

Pois é. Parece que a moda pegou entre os evangélicos também. E para quem está pensando que dessa vez eu vou atacar os neopentecostais engana-se. Um grupo da Primeira Igreja Batista de São José dos Campos - SP, o “Conexão Livre”, vai desfilar com cerca de 500 integrantes no sambódromo de São José dos Campos em pleno domingo de carnaval. Contrariando o tradicional retiro espiritual, esse pessoal resolveu mesmo inovar. Um famoso jornal local, o Valeparaibano, estampa em manchete com letras garrafais que “Bloco da PIB canta prazer sem pecado” [1]. “Será o primeiro bloco evangélico a se apresentar oficialmente na região”, afirma a jornalista Lidiane Duarte. O bloco será reforçado com uma bateria de samba do Rio de Janeiro, tendo o samba-enredo composto pelo sambista Pedro do Borel. Contudo, esse samba-enredo teve que passar pelo crivo da Liga das Escolas de Samba de São José dos Campos, pois o regulamento não permite letras que façam qualquer tipo de apologia religiosa. “Conseguimos adequar uma condição favorável para a cultura carnavalesca e para o bloco evangélico. A igreja demonstrou que está voltada à cultura popular e esperamos que seja uma participação alegre, importante para a cidade[2]”, afirma Aderson Alves Pinto, presidente da Liga. Sob o lema “Prazer sem culpa” estampado nos seus abadás, com grupos circenses, de dança e teatro na avenida, esse pessoal também entra no coro de que “carnaval... não mata, não engorda e nem faz mal”.

O que mais me deixou intrigado nisso tudo foi o argumento pretensamente “bíblico” usado pelo líder do Conexão Livre, Marcos Madaleno. Disse ele que “na Bíblia está escrito: ‘fiz-me de tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns’”[3]. “Nossa intenção”, reitera, “não é falar de religião e nem combater as ações do carnaval. Nosso objetivo com o bloco é mostrar o estilo de vida com Jesus, que a gente pode ter um prazer sem culpa e uma festa que não dura somente quatro dias”[4].

Se fizermos um análise do texto no qual o líder do Conexão Livre se baseou para legitimar o evento, veremos que ele cometeu vários equívocos hermenêuticos. O texto foi o de 1 Coríntios 9.22, no qual Paulo diz que
Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.
Proponho-me a fazer uma breve consideração desse texto e do seu respectivo contexto a fim de mostrar o que realmente o apóstolo quis dizer com isso.

De acordo com o contexto da passagem, Paulo está se referindo ao seu desprendimento material a despeito de suas prerrogativas como apóstolo e ministro do evangelho. O apóstolo tinha todo o direito de ser sustentado pela igreja, se assim o quisesse (cf. 1 Co 9.14). Mas não foi isso que ele preferiu. A própria igreja de Corinto, a quem Paulo ora escreve, foi testemunha disso. Quando Paulo chega a Corinto, Lucas nos diz que ele juntou-se ao casal Priscila e Áquila, “pois a profissão deles era fazer tendas” (At 18.3). Considerando que Corinto era um importante centro comercial da época por ser uma cidade portuária, onde o fluxo de entrada e saída de mercadoria era muito grande, e onde havia também os Jogos Ístmicos, somente superados em importância pelos Jogos Olímpicos de Atenas, a profissão de fazer tendas, certamente, era um ótimo negócio. Na certa, muitos viajantes compravam tendas para não terem que, todas as vezes, pagar hospedaria. E muitos hospedeiros, certamente, compravam tendas para alojar os viajantes que não quisessem comprar uma tenda. Em qualquer caso, o comércio de tendas era promissor, e era dele que Paulo tirava o seu sustento.

Mas não foi apenas do seu direito de ser sustentado pela congregação que o apóstolo abriu mão. Ele abdicou, também, do direito de se casar, uma vez que a maioria dos apóstolos era casada (1 Co 9.5). A razão para isso talvez esteja nas próprias orientações do apóstolo à igreja corintiana (1 Co 7). Ele diz aos coríntios que
Considero, por causa da angustiosa situação presente, ser bom para o homem permanecer assim como está. Estás casado? Não procure separar-te. Estás solteiro? Não procures casamento. Mas, se te casares, com isso não pecas; e também, se a virgem se casar, por isso não peca. Ainda assim, tais pessoas sofrerão angústias na carne, e eu quisera poupar-vos (1 Co 7.26-28).
Em Éfeso, de onde Paulo escreveu aos coríntios, uma “angustiosa situação” já se instaurara. A igreja estava sendo perseguida. Um clima de terror tomava conta daqueles que professavam a fé em Cristo. O sofrimento lhes era uma certeza. Lucas nos informa do grande “prejuízo financeiro” que a pregação do evangelho causara em Éfeso (At 19.23-40). Além do mais, Paulo previa algo de mais caótico. O império romano estava prestes a se insurgir contra os cristãos nas pessoas de Tito e Nero, por exemplo. E o que Paulo fez foi justamente advertir os irmãos para esse fato que, tão logo, se tornaria realidade. Melhor seria para o homem padecer a perseguição sozinho do que ver toda a sua família sucumbir, caso escolhesse se casar. O argumento do apóstolo é que, estando o homem (ou, a mulher) sozinho, este estaria “livre de preocupações”, podendo dedicar-se exclusivamente à obra do Senhor (7.32). Foi por esse motivo que o apóstolo preferiu o celibato ao casamento, considerando aquele como um “dom” (7.7). Paulo não queria que absolutamente nada o atrapalhasse na sua nobre missão de pregar o evangelho aos povos.

Como se não bastasse, Paulo ainda teve que sofrer adaptações culturais. Ele mesmo disse que “sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível” (1 Co 9.19). O que será que o apóstolo estava querendo transmitir com essa intrigante afirmação? Penso que aqui reside o cerne do problema hermenêutico. Muitas pessoas confundem adaptação cultural com conformação cultural, que é o que o apóstolo nos adverte a rejeitar em Romanos 12.2. Um exemplo disso é o pessoal de um grupo dito “emergente” chamado Sexxx Church, que, para alcançar homossexuais, prostitutas e afins, querem “imprimir Bíblias, que serão doadas, com uma capa imitando a folha de um caderno de brochura e com listras da bandeira GLS, com a figura de Cristo de óculos escuros e tatuagem”[5]. Será que Paulo consideraria legítimos mecanismos como esse para alcançar os ditos “marginalizados” sociais? Será que a solução para evangelizar os foliões no carnaval é fazer o mesmo que eles? Afinal de contas, não é isso que podemos inferir das declarações do próprio Paulo? Penso que não.

É necessário entendermos até que ponto Paulo se adaptou. Nos versos 20 e 21 do capítulo 9, o apóstolo nos apresenta qual foi a sua conduta diante de duas classes sociais e religiosas completamente distintas: a dos judeus e a dos gentios. Quanto aos judeus, Paulo nos diz que
Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para com os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei (1 Co 9.20).
Podemos perceber isso, por exemplo, na pregação do apóstolo dirigida aos judeus. Em Atos 13.16-41 Lucas nos relata uma pregação de Paulo a um público formado por judeus e gentios prosélitos (convertidos ao judaísmo). Nada do que Paulo fala soa estranho. Todos compreendem perfeitamente a mensagem, tanto que rogam ao apóstolo que este permaneça na cidade para pregar no sábado seguinte na sinagoga (13. 42). Paulo cita personagens e fatos da história de Israel, e todos os conheciam. A diferença crucial é que Paulo traz a lume o real significado deles. Além disso, Paulo se submeteu a alguns aspectos da Lei Cerimonial dos judeus, como a questão dos alimentos, por exemplo. Se comer carne de porco escandalizaria um judeu, a quem Paulo pretendia evangelizar, então ele não comeria. E isso não trazia confusão mental alguma ao apóstolo. Ele mesmo tinha consciência de que não estava mais debaixo da lei (cerimonial), mas agia como tal para poder aproximar-se daqueles a quem visava pregar o Evangelho da Graça de Deus.

Quando se refere ao seu procedimento para com os gentios, o apóstolo afirma que
Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei (1 Co 9.21).
Mais uma vez a pregação de Paulo nos oferece um exemplo de como ele se adaptou culturalmente ao seu contexto. Em Atos 17 temos uma das pregações mais célebres da história da igreja. Paulo está em Atenas, berço da cultura ocidental. Os filósofos se encontram no Areópago a fim de exporem os seus pensamentos, e Paulo vai ao encontro deles. Paulo era um homem que sabia usar muito bem a sua bagagem cultural. Seu vasto conhecimento dava-lhe a oportunidade de dialogar com pessoas das mais diversas cosmovisões. Na sua abordagem ele não faz referências à história de Israel, pois os gregos não a conheciam. Em vez disso, aproveitando-se de uma inscrição existente num altar, que dizia “AO DEUS DESCONHECIDO”, ele prega sobre “o Deus que fez o mundo e tudo que nele existe”, combatendo a ideia grega de que o universo fora criado por obra do acaso. Notamos aqui que Paulo em momento algum negocia sua teologia a fim de parecer “politicamente correto”. Muito embora ele tenha lançado mão de pensamentos dos próprios filósofos gregos para realçar seu argumento (“… como alguns de vossos poetas tem dito: Porque dele também somos geração” – 17.28), ele não usou seu amplo conhecimento cultural como um fim em si mesmo. Seu interesse era pregar a cruz de Cristo, não com “linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus” (1 Co 2.4,5). Paulo estava mais interessado em ser “teologicamente correto”! Como ele havia dito aos coríntios, ele não estava sem lei para com Deus (1 Co 9.21) [6]. O resultado disso foi que alguns creram, inclusive um homem chamado Dionísio, que era membro do conselho do Areópago (17.34).

Agora, Paulo nos ensina de que forma ele se adaptou e com que objetivo. Ele nos diz que se fez “fraco para com os fracos” e “tudo para com todos” (1 Co 9.21). Como dissemos no início, esse texto é largamente usado por muitos como uma justificativa bíblica para as suas invenções evangelísticas. O pensamento que permeia os métodos dessas pessoas é o de que “os fins justificam os meios”. Para estes foi isso o que Paulo estava querendo dizer. Será que eles estão certos? Mais uma vez, penso que não.

Devemos entender, antes de qualquer coisa, que os “fracos” a quem Paulo se refere são os judeus e gentios a quem ele evangelizara. Depois de falar sobre o tratamento que ele havia dispensado a esses dois grupos, ele os une numa só palavra:fracos. Essa palavra é bastante abundante nas cartas paulinas (aparece cerca de 35 vezes, dentre fraco e fraqueza). Geralmente, quando Paulo emprega essa palavra, ele a associa a condições doutrinárias, físicas, materiais, morais e espirituais, basicamente. Escrevendo aos romanos ele se refere àqueles que possuem debilidades doutrinárias (Rm 14.1). A ordem do apóstolo é que esse irmão que é débil (lit.“fraco”) na fé seja acolhido, para que possa alcançar o discernimento necessário. Escrevendo aos coríntios ele se refere a si mesmo com um homem possuidor de muitas fraquezas físicas e materiais. “Somos fracos e vocês, fortes”, desabafou o apóstolo. “Temos fome e não temos o que vestir; fomos esbofeteados; não temos sequer onde morar, embora trabalhemos exaustivamente com as nossas próprias mãos. As pessoas nos consideram o lixo do mundo” (1 Co 4.10-13). Novamente aos romanos, Paulo fala da nossa fraqueza moral (6.19) e da nossa conseqüente necessidade de ser assistido espiritualmente pelo Espírito Santo (8.26). Paulo teve que se adequar a esses tipos de pessoas. Ele teve que abrir mão de muitos privilégios para ver a obra da evangelização avançar, mesmo que isso lhe custasse a própria vida, como ele mesmo diz aos presbíteros da igreja de Éfeso (At 20.24). Isso não significa, todavia, que Paulo conformava a mensagem do evangelho ao bel prazer humano, como já dissemos. Para o apóstolo os valores do Evangelho eram inegociáveis. Pode até ser que Paulo fosse flexível em algumas questões, mas ele não abria esse leque a qualquer um. Calvino observa que, quanto aos judeus, “ele assumiu a forma judaica na presença de judeus, porém não diante de todos eles; pois muitos deles eram obstinados, os quais, sob influência do farisaísmo orgulhoso e malicioso, gostariam muito de ver a liberdade cristã totalmente suprimida”. Calvino continua observando que “a tais pessoas ele jamais se submeteria, pois Cristo não quer que nos preocupemos com pessoas desse gênero. Nosso Senhor disse: ‘Deixai-os; são cegos, guias de cegos’ [Mt 15.14]. Por isso devemos acomodar-nos aos fracos, porém não aos obstinados”[7]. Paulo não ia ficar a inflar o ego dos incrédulos, como fazemos nos dias de hoje. Nosso maior erro é confundir os fracos com os obstinados. Perdemos tanto tempo com os obstinados que acabamos por perder de vista os fracos. A obstinação é incrédula, mesmo estando escondida debaixo do guarda-chuva religioso. É o que Paulo quer dizer a Timóteo falando das pessoas pretensamente religiosas e crentes, mas que negam a eficácia da fé que professam pelas suas condutas pecaminosas (2 Tm 3.5).

Acredito que uma boa hermenêutica nos previne de equívocos. Isolar o texto do seu respectivo contexto é dar margem para heresias. Dou graças a Deus pelo contexto! É por intermédio dele que eu posso identificar quais eram as intenções originais dos autores bíblicos aos seus destinatários. Sem essa percepção não pode haver uma correta interpretação da Bíblia. O grande problema dos defensores da “contextualização a qualquer custo” é exatamente a falta de uma hermenêutica sadia. Por esse motivo é que existem tantos desvios doutrinários em nossas igrejas.

Talvez, aqueles que pretendem pular o carnaval alegando que é necessário se fazer “fraco para com os fracos” pensem um pouco nisso. Mais uma vez, o jornal Valeparaibano diz que “Para o mestre em ciências da religião pela PUC e professor da Fatea, João Geraldo Júnior, o carnaval vem alcançando as igrejas desde [a] década de 80”.[8] Esse é o retrato de uma igreja que tem falhado em alcançar o pecador da forma correta. Que Deus tenha misericórdia de nós!

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Fonte: Blog OpticaReformada

[1] Jornal Valeparaibano, de 08 de fevereiro de 2009. Primeiro caderno, pág. 14.
[2] Idem.
[3] Idem.
[4] Idem.
[5] Revista da Folha de São Paulo, de 11/01/2009. O conteúdo da matéria pode ser encontrado no site www.igrejaemergente.com.br/?p=37
[6] Comentando essa passagem Calvino nos diz que “quando [Paulo] diz que procedia como se vivesse sem lei e como se estivesse debaixo da lei, devemos compreender que ele está se referindo somente à lei cerimonial, porquanto a lei moral era comum tanto a gentios quanto a judeus; e Paulo não pretendia agradar os homens até este ponto”. Em Calvino, João. 1 Coríntios. São Bernardo do Campo, SP. Edições Parakletos, 2003. Págs. 281, 282. Itálico meu.
[7] Op. cit. Pág. 282.
[8] Jornal Valeparaibano, de 08 de fevereiro de 2009. Primeiro caderno, pág. 14.

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