segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A IGREJA E O CIRCO GOSPEL


Muitas vezes recebemos questões como: Por que vocês não usam esse ou aquele super recurso para melhorar a edição/layout? Por que vocês não utilizam ferramentas de discursos ou aplicam estratégias para aumentar o número de curtidas? Por que vocês não compartilham vídeos dos "queridinhos" do mundo gospel, dando uma pitada de humor na página? Quem são vocês da Página?

Bem, amados, a nossa resposta permanece a mesma de quando começamos essa página com o objetivo de dividir algumas reflexões e textos acerca do Evangelho.

Quem somos nós? Bem, somos os que são consolados pelo Espírito, amados de Jesus, e filhos de Deus, assim como todos aqueles que se encontraram com o Cristo pelas estradas de Damasco.

Essa página não tem como objetivo qualquer pretensão pessoal de quem quer que seja. Afinal de contas, a maior parte da história (verdadeira) da Igreja do Senhor aqui na terra foi realizada de forma anônima, por homens e mulheres cujos nomes somente saberemos no céu. Gente simples e humilde que sangra pelo Evangelho.

Mas, se Deus vê e se alegra, o que mais importa? Nada mais importa conquanto seja Ele anunciado e o caráter do Seu Filho enxergado naqueles que, de fato, se agarram em Seu precioso Nome como única fonte de esperança.

Não pretendemos agradar quem quer que seja e nem rentabilizar influências ou vender o que quer que seja; receber convites para pregar ou encarnar o "Ministério __________ (nome da pessoa)". Não faremos disso uma estrutura pesada.

O Brasil tem padecido de males como esses. A título de exemplo, observe que conhecemos uma centena de 'cantores' e 'pastores' que construíram fortunas às custas de música e discurso sobre a bíblia. Mas, sejamos francos: conhecemos uma única pessoa que construiu fortuna às custas de louvor sincero e pregação genuína do Evangelho de Jesus Cristo? A resposta que ecoa do coração do Evangelho é NÃO. (E não venha dar "piti" na Página, porque, como foi dito, não estamos aqui para agradar você).

O Evangelho não produz glamour, estruturas pesadas, instituições que prezam mais por seus usos e costumes (manuais de regras comportamentais), e comércio. Então, me responda por qual razão todo "artista gospel" que conseguiu "5 minutos de fama" logo abre a sua lojinha virtual? Por qual razão eles vendem os seus "testemunhos" em livros? Por que insistem em rentabilizar ou monetizar o Evangelho?

Mais uma vez vamos insistir: não adianta vir aqui brigar conosco, pois você perderá o seu tempo. Os fins não justificam os meios. Pouco importa se o seu "artista" ajuda criancinhas na África com essa grana às custas do Evangelho ou se faz caravana para Israel. O fato é que fomos chamados para servir o Evangelho (servir a Cristo) e não para nos servir dele (ou, como muitos estão fazendo: se lambuzando dele).

Não estamos falando de fanatismo religioso (amor sem conhecimento) e nem de legalismo religioso (conhecimento sem amor). Estamos falando de discernimento (amor e conhecimento andam de mãos dadas). É por isso que não se tratam de regras escritas com tinta e tábuas de pedra, mas escritas com o Espírito do Deus vivo nas tábuas de corações humanos.

Quando é que vamos discernir que todo comércio que andam fazendo, ainda que a pretexto de fazer caridade ou levar o evangelho, não redime as ações praticadas? Jesus Cristo, por acaso, agora é servido por mãos humanas, como se estivesse em necessidade de alguma coisa?

Quando vamos discernir que o Evangelho não é sobre um coração transformado, mas sim sobre um novo coração? Você não se converte porque passa a fazer parte de uma comunidade, mas por meio de uma obra sobrenatural de Deus na sua vida.
Os discípulos nunca tiveram muito dinheiro, nunca tiveram TV ou Rádio, nunca venderam camisetas ou seja lá o que for - aliás, não venderam NADA -, e nunca tiveram grandes prédios, templos, sinagogas, ministérios. Eles nunca tiveram absolutamente NADA disso. Mas sabe o que eles fizeram? Aqui está a resposta: Eles viraram o mundo de cabeça para baixo.

Mas hoje não é mais assim. Hoje, a pessoa canta um pouquinho bem ou fala um pouquinho bem e ela já SE TORNA um ministério. E aí já sabemos. É mais um vida girando na estrutura do circo gospel.

Os frutos são estruturas obesas, gente sem discernimento, uma cristandade cheia de fetiche pelos "pastores-celebridade e cantores-celebridade", gente vivendo do dinheiro que sequer deveria ganhar (nesse contexto), e gente perdida que se agarra à ideia de que está abençoando muita gente. Cegos guiados por cegos.

E, uma vez ou outra, aparece o "crente-fã" revoltadinho porque alguém falou algo de verdadeiro sobre essa orgia gospel. Ele se sente ofendido porque não consegue discernir que Deus misericordiosamente age, resgata e salva pessoas APESAR de toda a palhaçada.

O "crente-fã" fica bravo porque crê que se Deus agiu é porque partilha e se agrada desses acontecimentos. Se alguém é salvo ouvindo um culto da Universal do Reino de Deus ou dos "malucos" da Lagoinha, automaticamente o "crente-fã" crê que Deus está ali. Mas não, Ele não se agrada disso.

O objetivo do que dizemos é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para o outro pelas ondas teológicas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela malícia de certas pessoas que induzem os incautos ao erro. Precisamos nos agarrar aos pilares da nossa fé.

Leonard Ravenhill estava certo: mais pessoas vão para o inferno por causa de um evangelho mal pregado do que por qualquer outra razão. Esse é o alerta para você: é bom que você não tenha o sangue deles em suas mãos, pois dará conta das suas ações. E isso não é uma ameaça - não me venha com essa -, isso é um alerta encharcado da reverência e da solenidade que permeia tais ações.

Você tem um bom testemunho? Então vamos vender livros, cursos, CDs (até "coaching" tiveram a capacidade de fazer). Vocês estão malucos? Você tem uma boa voz? Então façamos um igreja como se fosse um palco e aí você pode cantar, vender CDs, e talvez até abrir uma loja virtual para vender camisas, canecas e capacetes. Vocês estão malucos? Desperte, ó povo de Deus! Esse evangelho foi proclamado a custo de sangue. Vocês perderam totalmente o juízo. Mal sabem vocês que são juízo de Deus sobre esse povo ambicioso e idólatra que consegue para si mesmo a eficácia das suas próprias cobiças.

Muitos de vocês oferecem o mesmo que o Diabo, mas em nome de Cristo. Ouça, Igreja, saia desse meio enquanto há tempo. Corra para longe disso e não toque em absolutamente nada quando sair. Corra pela sua vida. Esse é o meu conselho para você. E saiba que você não encontrará uma igreja local perfeita, mas certamente encontrará igrejas que são feitas por pessoas que honestamente desejam servir ao Senhor. Quem tem ouvidos, que ouça, pois o Senhor está às portas.

Eu não quero ser achado entre aqueles que estão fazendo coisas que o Senhor e os seus discípulos abominariam. Eu quero ser achado entre aqueles cuja vida expressa o caráter do Cristo, porque o evangelho não é sobre uma vida que tentamos viver com Jesus ou para Jesus, mas sim sobre Jesus Cristo vivendo em nós. E se Ele vive, o nosso caráter muda.

Responda-me: Por que mesmo você acredita em Deus? Porque até mesmo os demônios acreditam e tremem diante dele. Então me diga: o que exatamente coloca o diabo e os demônios de um lado da linha e você de outro? Certamente não são essas sandices que estão ao nosso redor.

É este o lamento de Deus hoje:
"Pensavas que (EU) era como você".

A vida nessa terra não é um parque de diversões gospel. Estamos aqui neste mundo caído como peregrinos e em nós foi posta a mensagem da reconciliação entre Deus e todos os homens. Precisamos anunciá-la, se é que amamos os nossos semelhantes, ainda que para isso precisemos desafiar os coronéis da fé, os currais evangélicos e os celeiros de heresias.


Não tememos ninguém, senão ao Senhor,


domingo, 30 de outubro de 2016

Reforma Protestante e o movimento evangélico brasileiro


O movimento evangélico brasileiro, ao menos no discurso, afirma seu vínculo histórico com a Reforma Protestante do século XVI, contudo, seus desdobramentos práticos em nosso país, infelizmente, têm estado bem distantes de tal realidade e promovido inúmeros ensinos distorcidos que desembocam em atitudes equivocadas, que corrompem a verdade da Escritura, a saúde da igreja e a vida dos que estão e se aproximam desta de um modo geral.

Foi o saudoso Bispo Robinson Cavalcanti quem disse:

“Qual o jovem cristão hoje que pode minimamente discorrer sobre Lutero, Calvino, Melanchton ou Beza? Qual é o fiel de hoje que conhece os catecismos ou as confissões de fé como as de Westminster, de Augsburgo ou XXXIV Artigos da Religião? Em relação à Reforma o nosso protestantismo é como um computador primitivo, não possui memória, apenas uma vaga lembrança.”

Infelizmente nos dias atuais promovemos muito mais a experiência, os resultados e os relacionamentos, enquanto que a fé, a confessionalidade, o ensino robusto e o amor à Escritura como palavra pela qual Cristo governa Sua igreja são deixados de lado, rotulados como “chatos e dispensáveis” ou enquadrados dentre as atividades que “não empolgam ninguém”. Não é difícil presenciar, eu mesmo já o fiz, pessoas dentro das igrejas evangélicas brasileiras que não têm a menor ideia das suas origens como cristãos, que ao ouvirem o termo “Reforma” confundem o movimento do século XVI com uma possível reforma aqui ou ali na construção do templo. Claro que não estou falando de irmãos novos na fé que ainda carecem de conhecimento básico, estou falando de moços, moças, homens, mulheres, gente adulta inteligente, que frequenta igreja por 2, 3, 5, até 10 anos. É claro também, que não estou generalizando, existe um sem número de igrejas sérias em nosso país e o movimento de retorno às Escrituras e à ortodoxia tem crescido consideravelmente, porém, a quantidade de cristãos protestantes brasileiros que tem pouca ou nenhuma informação a respeito de quem são, de onde vêm suas raízes e porque recebem o nome de ‘cristãos protestantes’ ainda assim é alarmante.

E você, sabe do que se trata a Reforma Protestante? 

A Reforma Protestante foi o movimento que lutou contra o clericalismo e o hierarquismo que dominavam a Igreja Católica Romana no final do século XV, início do século XVI, e, por conseguinte, grande parte da estrutura social da época, hasteando com toda força a bandeira da doutrina bíblica do sacerdócio universal dos crentes e da suprema autoridade das Escrituras Sagradas sobre a vida do cristão. Numa época onde apenas clérigos, nobre e reis podiam ler e escrever, os reformadores espalharam escolas e universidades pela Europa balizados na ideia de que todo ser humano fora criado a imagem e semelhança de Deus e tem o direito a alfabetização e ao aprendizado, e que toda atividade é santa perante Deus e pode ser feita de forma excelente para Sua glória. No anseio de formar gente para servir a Deus e aos homens em todas as áreas da vida, contrapondo em absoluto a prática católica romana da época, algumas das instituições fundadas pelos reformadores na área da educação foram as Universidades de Genebra, Zurique, Utrech, Amsterdã, Harvard, Yale, Princeton, Brown, Dartmouth e Rutgers. Os Puritanos restauraram Oxford e Cambridge. A Reforma foi muito mais que um movimento religioso, os reformadores lançaram as bases para uma nova sociedade, empoderando cristãos a se especializarem nos dons que tinham para servir a quem quer seja, onde quer que fosse para a glória de Deus. Estavam abertos os portões para uma grande revolução na história da humanidade.

Michael Horton em seu livro “O cristão e a cultura” mostra com veemência o quanto nossos pais criam que Deus é Senhor de toda a nossa vida! Horton descreve esta imensa mudança que o mundo experimentou com a Reforma Protestante nas figuras de Lutero e Calvino:

Martinho Lutero persuadiu o governo a proclamar a educação universal compulsória tanto para meninas como para meninos, pela primeira vez na história ocidental. Com seus associados ele criou um sistema de educação pública na Alemanha. O cristianismo era religião da Palavra, e aqueles que dependiam de imagens religiosas e só “ouviram falar” eram, a princípio espiritualmente empobrecidos. Mas eram também culturalmente empobrecidos e esse era um ponto igualmente importante. Com esse propósito o colega de Lutero, Melanchthon, declarou: “A finalidade última que confrontamos não é apenas a virtude particular mas o interesse do bem público.”
Calvino argumentava na seguinte linha: Visto que é necessário preparar as gerações futuras a fim de não deixar a igreja num deserto para os nossos filhos, é imperativo que se estabeleça um colégio para se instruir os filhos e prepará-los tanto para o ministério quanto para o governo civil.” (Ordenanças de 1541)

Os reformadores acreditavam que todo homem tem direito de ser respeitado, valorizado e ensinado. Não é o fato se ser Rei, governante, nobre, professor, enfermeiro, gari ou um pastor que confere maior santidade e um lugar mais importante a alguém junto de Deus, afinal, é muito possível encontrar um pastor relapso, preguiçoso e desonesto para com os estudos da Escritura Sagrada e suas atividades pastorais, que traz desonra e vergonha para Deus, e, uma dona de casa caprichosa e amorosa que faz seu trabalho com afinco e orgulho, que traz glória para Deus. Não é o que fazemos que traz mais ou menos glória para Deus, e sim como fazemos. Somos cristãos em todos os momentos, em todos os lugares, fazendo todas as coisas, não apenas quando estamos de batina ou de terno e gravata encaixotados dentro de um “templo” religioso. Ideias como essas revolucionaram nações inteiras na Europa e serviram como grandes fogueiras que deixaram o velho continente em chamas e o corpo de inúmeros mártires cristãos em cinzas neste período da história.

Foram os reformadores que tiveram a coragem de tomar a autoridade da igreja das mãos da tradição e do clero e entregá-la de volta às Sagradas Escrituras, foram eles que nos lembraram novamente que somos salvos apenas pela graça, mediante a fé, e que a obra da salvação e qualquer movimento de avivamento nunca foi e nunca será protagonizado e provocado por algum homem, e que todo aquele que crê, só crê porque o Espírito Santo o convenceu do pecado da justiça e do juízo. Os reformadores nos lembraram que glorificamos a Deus não apenas nos monastérios e nos templos, e que não precisamos demonizar o mundo, a criação e tudo que neles há. Foi a cidade de Genebra, pelas mãos de um reformador, a primeira cidade na Europa a ter saneamento básico, polícia, água encanada, hospitais e o parto de infantes regulamentado e assistido por profissionais da área. Boa parte da noção ocidental de democracia, república, arte, justiça, liberdade de imprensa, direitos humanos, defesa de minorias e educação vem do movimento reformista. Foram os reformadores que traduziram a Escritura para diversas línguas. Se a Bíblia Sagrada hoje pode ser lida em português e tantos outros idiomas, é porque homens e mulheres sofreram muito, a ponto de derramarem o próprio sangue por esta causa. A fundamentação e o aperfeiçoamento de línguas como o alemão e o francês estão ligados profundamente a obras do período da reforma como a tradução da Bíblia Sagrada para o alemão e As Institutas da Religião Cristã, respectivamente.

O escritor Alister McGrath em seu livro “Origens Intelectuais da Reforma” faz um questionamento interessante, ele pergunta: a Reforma Protestante alcançou seu objetivo? O motivo principal que era reformar o que já estava criado foi alcançado? Creio que uma resposta sensata diante desta questão seria não. Não era intenção de Martinho Lutero dividir a igreja, antes, sua proposta era reformá-la! No entanto isso não aconteceu, a Igreja Católica Romana se fechou, excomungou-o como herege, veio a contra-reforma e o protestantismo começou a se expandir, tomar forma e ganhar contornos cada vez mais robustos. É importante não atribuir status canônico aos reformadores e suas obras, são homens como todos nós, que tiveram suas falhas como quaisquer outros, contudo, foram escolhidos por Deus para uma missão grandiosa que marcaria o planeta para todo sempre. A reforma da igreja como pensavam os primeiros reformadores, em certo sentido, foi um fracasso, mas nos apontou caminhos, trouxe luz a muitas mazelas escondidas do seio de uma instituição religiosa gigantesca e fundamentou filosófica e teologicamente a prática da Igreja de Cristo daquele momento em diante.


O que Lutero e Cia nunca imaginou que aconteceria 

Numa breve leitura do cenário do protestantismo atual no Brasil é possível perceber um retrocesso preocupante em relação a grande parte do que foi a luta do movimento reformado. Vejamos alguns pontos:

  • Grandes denominações centradas na figura de uma única pessoa, prática que faz alusão a uma espécie de papismo e atenta contra o princípio protestante do sacerdócio universal dos crentes.
  • Tradicionalismo ou denominacionalismo exacerbado que em diversos momentos toma o lugar das Escrituras Sagradas no governo da igreja.
  • Redemonização do mundo, que fere o princípio que a criação é boa e bela e Deus, em sua missão (MissioDei) a está reconciliando consigo mesmo por meio de Seu Filho Jesus, utilizando-se muitas das vezes de Seus santos espalhados pelo mundo.
  • Isolacionismo, ou seja, a ideia de que para ser santo deve-se evitar o contato com o mundo, que fere o ensino reformado de santidade ativa no mundo.
  • Teologia da prosperidade que fere contundentemente a memória e os ensinos dos mártires e com toda certeza seria escorraçada pelos reformadores.
  • Teologia dos que são cabeça e não cauda, que dominam ao invés de serem dominados, chamada teologia do domínio, nega o chamado do cristão ao serviço sacrificial.
  • Alienação política ou a política feita em causa própria, fere a ideia do exercício político a serviço de toda nação para glória de Deus e não a serviço de uma minoria para glória de um grupo.
  • Insensibilidade e afastamento social contrasta com as obras de misericórdia e amor que eram pontos centrais do ensino e da vida dos reformadores.
  • Preconceito com o conhecimento científico, principalmente em relação as ciências humanas e com os estudos em geral, completamente antagônico aos títulos de mestres e doutores de inúmeros mestres reformadores que, diga-se de passagem, tinham como meta a educação e a construção de universidades.
Olhar no retrovisor da história nesse momento de comemoração dos 498 anos de Reforma Protestante é extremamente necessário. Para onde estamos indo como povo de Deus espalhados por esse mundo? O que temos acrescentado, qual a nossa contribuição aos de fora da igreja? Que tipo de evangelho tem sido pregado do alto de nossos púlpitos? Temos honrado o sangue de tantos e tantos mártires da causa do evangelho? Os reformadores se sentiriam parte das igrejas evangélicas atuais? É a glória de Deus que estamos buscando acima de todos os outros interesses como igreja de Cristo em solo brasileiro?

É necessário que nesse 31 de Outubro de 2016, deixemos o Halloween Gospel de lado e dediquemos mais tempo para o estudo de onde viemos, do que diziam, escreviam e de como viviam os fundadores do movimento ao qual, pelo menos no discurso, dizemos fazer parte. Conforme disse acima, a reforma protestante nos apontou caminhos, caminhos preciosos desbravados a duras penas, à custa de muito sangue e trabalho. Cabe a nós, em nossa geração, contextualizar todas estas realidades e fundamentados no temor do Senhor, na Bíblia Sagrada e no exemplo destes piedosos e fiéis homens de Deus, glorificarmos o nome de Cristo Jesus em todas as esferas da vida, o tempo todo e em todos os lugares. Sejamos corajosos! Que Deus abençoe a igreja brasileira e que nos lembremos hoje, mais do que nunca, de um dos principais lemas da Reforma que diz: igreja reformada sempre se reformando.

Que Deus nos alcance!



por Lucas Freitas
Fonte: Minha Vida Cristã

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Expondo das Heresias da Igreja Católica: O PAPA



Um dos principais catalisadores do início da Reforma Protestante foi um livro de Jan Hus, um boêmio cristão que precedeu Martinho Lutero por um século inteiro. O livro foi De Ecclesia (A Igreja), e um dos pontos mais profundos de Hus foi proclamado no título de seu quarto capítulo: “Cristo é o único cabeça da Igreja.”

Jan Hus escreveu:

Nenhum papa nem tampouco os cardeais, são a cabeça de todo o corpo da Igreja Católica santa, universal; pois Cristo é o cabeça da igreja.

Ressaltando, a maioria dos líderes da igreja em sua época verdadeiramente desprezava o senhorio de Cristo.

Jan Hus disse:

Eu entrei para algo tão infame como o clero, de modo que eles detestam aqueles que pregam e frequentemente chamam Jesus Cristo de Senhor.

A franqueza de Hus lhe custou a vida. Ele foi declarado herege e queimado na fogueira em 1415.

Cem anos mais tarde, e já em divergência com o estabelecimento papal, Martinho Lutero leu De Ecclesia. Após terminar o livro, ele escreveu para um amigo:

Eu tenho até agora ensinado e mantido todas as opiniões Jan Hus inconscientemente, assim como John Staupitz. Em suma, somos todos “hussitas” sem saber.

Como o cabeça da Igreja Católica Romana, o papa é muitas vezes chamado de “Pai Santo” e o “Vigário de Cristo” – nomes e funções que se aplicam somente a Deus. Ele afirma que tem a capacidade de falar com autoridade, exercendo infalibilidade divina em adicionar e aumentar as Escrituras (Apocalipse 22.18). Ele exerce autoridade antibíblica e profana sobre seus seguidores, usurpando a liderança de Cristo e pervertendo a obra do Espírito Santo.

Os reformadores entenderam isso e declararam com ousadia impudente. Como Martinho Lutero escreveu para um amigo:

Nós estamos convictos de que o papado é o trono do “verdadeiro e real Anticristo”. Pessoalmente, eu declaro que não devo ao Papa outra obediência do que isso para o Anticristo.

Em suas Institutas da Religião Cristã, João Calvino disse:

Algumas pessoas acreditam que somos demasiadamente inexoráveis e severos, quando chamamos o pontífice romano de Anticristo. Entretanto, aqueles que são desta opinião, não considero que trazem a mesma carga de presunção contra o próprio Paulo, após os quais falamos e cuja língua adotamos. E para que ninguém se oponha, desvirtuando indevidamente ao pontífice romano as palavras de Paulo, que pertencem a um assunto diferente, devo mostrar brevemente que eles não são capazes de qualquer outra interpretação da que a implique ao papado. (John Allen, tradução, o livro quatro, capítulo sete).

As palavras de Paulo que Calvino referiu-se eram de 2 Tessalonicenses, onde o apóstolo descreveu a vinda do Anticristo, “que se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosso o próprio Deus.” (2 Tessalonicenses 2.4).

Esse mesmo entendimento foi refletido mais tarde na Confissão de Fé de Westminster, que diz:

Não há outro cabeça da igreja senão o Senhor Jesus Cristo. Em sentido algum, pode ser o papa de Roma cabeça dela; ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição, que se exalta na igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus (Colossences 1.18; Efésios 1.22; Mateus 23.8-10; 1Pedro 5.2-7; 2Tessalonicenses 2.3-4) [25.6].

Isso não quer dizer que o papa é o anticristo final [escatológico, ênfase do tradutor]. Não tem sido e continuará a ser, como 1João 2.18 diz, sobre muitos falsos mestres que encarnam o espírito do Anticristo. Como o americano puritano Cotton Mather escreveu em The Fall of Babylon [A Queda da Babilônia]:

Os oráculos de Deus predisseram o surgimento de um Anticristo [isto é, um ou mais anticristos que encarnam o espírito do Anticristo] na igreja cristã. E no Papa de Roma todas as características do Anticristo são tão maravilhosas que respondeu que, se qualquer um que ler as Escrituras não vê-lo, há uma maravilhosa cegueira sobre eles.

Em um sermão intitulado “Ore a Jesus”, Charles Haddon Spurgeon exortou sua congregação que “é dever de cada cristão orar contra o Anticristo e quanto ao que o Anticristo é. Nenhum homem sensato deve levantar uma questão. Se o papado não for a igreja de Roma e a igreja da Inglaterra, não há nada no mundo que pode ser chamado por esse nome.”

Ele disse mais:

Em qualquer lugar, o Papado, seja anglicano ou romano, é contrário ao evangelho de Cristo! E é o Anticristo, e devemos orar contra ele! Deveria ser a oração diária de cada crente que o Anticristo possa ser arremessado como uma pedra de moinho na inundação e afundar para não subir mais. Se podemos orar contra o erro por Cristo, porque fere Cristo, porque ele rouba a glória de Cristo, porque coloca a eficácia sacramental no lugar de Sua expiação e levanta um pedaço de pão no lugar do Salvador, e algumas gotas de água para o lugar do Espírito Santo, e coloca um mero homem falível como nós mesmos como o Vigário de Cristo na terra – se orarmos contra ele, porque é contra ele –, devemos amar as pessoas que odeiam seus erros! Amaremos suas almas, embora nós detestemos os seus dogmas, e assim o sopro de nossas orações será adoçado, pois voltamos nossos rostos em direção a Cristo quando oramos.

Em outro sermão, intitulado “Cristo glorificado,” Spurgeon disse:

Cristo não redimiu Sua igreja com Seu sangue para que o papa pudesse entrar e roubar a glória. Ele nunca veio do céu à terra e derramou o Seu coração para que pudesse comprar o seu povo, de modo que um pobre pecador, um simples homem, pudesse ser definido como elevado para ser admirado por todas as nações e chamar a si mesmo de o representante de Deus na terra! Cristo sempre foi o cabeça de Sua igreja.

Em 1Timóteo 2.5, Paulo disse: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.”

O papa assumiu para si uma posição de autoridade que não precisa ser ocupada.



Autor: John MacArthur

Fonte: Grace to You

Expondo as Heresias da Igreja Católica: A MISSA





O escritor da carta aos Hebreus é inescapavelmente claro sobre a natureza singular do sacrifício de Cristo.

Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus; nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado. E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação. (Hebreus 9.24-28)

A Escritura não hesita na finalidade do sacrifício de Cristo em nosso favor. Ele veio para realizar uma oferta única pelo pecado, para nunca mais ser repetido. Foi um contraste com a aliança mosaica, que necessitava de um sistema de sacrifícios quase constantes. Mas nenhum dos sacrifícios do Antigo Testamento podia verdadeiramente expiar o pecado. Eles só podiam servir como uma lembrança da libertação de Deus e prefigurar o sacrifício final de Cristo, o qual iria vencer o pecado.

Com a prática da missa, a Igreja Católica Romana tem reinstituído um sistema antibíblico de sacrifícios repetidos, blasfemando de Cristo e pervertendo Sua obra na cruz.

De que maneira a missa é importante para o Catolicismo? O Catecismo da Igreja Católica se refere a ela como a “fonte e o ápice da vida cristã”. Ou seja, é a origem e o ponto alto da fé católica. Ela não é periférica – é o coração e a alma de todo o sistema.

Em seu livro The Faith of Millions, [A Fé de Milhões], John O'Brien, um padre católico, explica o procedimento da missa:

Quando o sacerdote pronuncia as tremendas palavras de consagração, ele chega até aos céus, faz Cristo descer do seu trono, e coloca-o em cima de nosso altar para ser oferecido novamente como vítima pelos pecados do homem. É um poder maior do que o de monarcas e imperadores; é maior do que o de santos e anjos, maior do que o dos Serafins e Querubins. Na verdade, é ainda maior do que o poder da Virgem Maria. Ao passo que a Bendita Virgem foi o agente humano pelo qual Cristo se encarnou uma única vez, o sacerdote faz Cristo descer do céu e torná-lo presente em nosso altar como a eterna vítima pelos pecados do homem, não uma, mas mil vezes! O sacerdote fala: aqui está! Cristo, o Deus eterno e onipotente, curva a sua cabeça em humilde obediência ao comando do padre.

Simplificando, a Igreja Católica não deixa Cristo fora da cruz. Na missa, a substância do pão e do vinho são, supostamente, transformados no corpo e no sangue de Jesus, tornando-o como um sacrifício incompleto e repetido pelos pecados. Ele não é Senhor e Salvador – Ele é uma vítima eterna, perpetuamente limitado ao altar pelo poder do sacerdote, visivelmente e universalmente simbolizado no crucifixo católico romano. 

Isso é uma negação direta do ensinamento de Paulo em Romanos 6.8-10:

Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus.

Ao negar o sacrifício singular de Cristo, o catolicismo impregna seu sacerdócio ilegítimo com poder e autoridade artificial, escravizando seus seguidores para um sistema redundante de ofertas ineficazes para o pecado dos ímpios. É essencialmente o paganismo regado com a terminologia cristã suficiente para enganar e iludir almas, convencendo-os de que a morte de Cristo na cruz não foi suficiente para realizar a salvação deles. Com efeito, a missa anula o verdadeiro significado da cruz.

J. C. Ryle explicou as implicações teológicas, espirituais e as imperfeições da missa católica:

A doutrina romana da presença real, se buscada até suas últimas consequências legítimas, obscurece toda a doutrina central do evangelho, prejudicando e comprometendo todo o sistema da verdade de Cristo. Se permitirmos por um momento que a Ceia do Senhor seja um sacrifício, e não um sacramento, permitirmos que cada vez que as palavras da consagração sejam usadas, o corpo e o sangue de Cristo estão presentes na mesa da comunhão sob a forma de pão e vinho, permitimos que todo aquele que come o pão e bebe o vinho consagrado realmente come e bebe o corpo e o sangue de Cristo. Se permitirmos por um momento essas coisas, veremos depois as consequências graves resultantes dessas premissas.

Vocês corromperam a bendita doutrina da obra definitiva de Cristo quando Ele morreu na cruz. Um sacrifício que precisa ser repetido não é algo perfeito e completo. Vocês corromperam a função sacerdotal de Cristo. Se há padres que podem oferecer um sacrifício aceitável a Deus além dEle, o grande Sumo Sacerdote, sua glória é usurpada. Vocês corromperam a doutrina bíblica do ministério cristão. Vocês engrandecem homens pecadores na posição de mediadores entre Deus e o homem. Vocês oferecem aos elementos sacramentais do pão e do vinho uma honra e veneração que eles nunca foram feitos para receber, e produzem uma idolatria abominável de cristãos fiéis. Por último, mas não menos importante, vocês derrubam a verdadeira doutrina da natureza humana de Cristo. Se o corpo nascido da Virgem Maria pode estar em mais lugares do que um, ao mesmo tempo, então não é um corpo como o nosso, e Jesus não era “o último Adão” de verdade da nossa natureza.

Em termos simples, a missa não tem nada a ver com o evangelho cristão, nada a ver com a vida cristã, e nada a ver com a igreja cristã. Ela rejeita a verdadeira natureza bíblica de Deus, Cristo, pecado, salvação, expiação e perdão. Ela rouba da cruz o seu significado e substitui com idolatria superficial, centrada no homem. É uma mentira, uma fraude e uma fabricação condenável que escraviza corações e prepara as pessoas para a condenação.


por John MacArthur
Fonte: Grace to You

O mundo e o diabo como tentadores



O mundo

O mundo instiga tanto convertidos como não convertidos a cometerem pecado. Ele coloca diante deles todos os tipos de entretenimento, na esperança de se beneficiarem de alguma forma, bem como amizade, amor, apreço e fama. Se isso não lograr êxito, ele irá ameaçar com o mal, infortúnio, opróbrio, perseguição, etc.

Ainda que uma pessoa mundana tente outra pessoa mundana ao pecado, a igreja em geral, e cada crente individualmente, é o seu foco principal. Os últimos são como ovelhas entre os lobos. Portanto, eles não devem confiar em ninguém, mas devem estar sempre vigilantes quando estiverem entre as pessoas do mundo.

O Senhor Jesus predisse que não temos que esperar nada do mundo, senão o mal das pessoas mundanas. No mundo tereis aflições (João 16.33). O Senhor Jesus também ensina que devemos estar em guarda com os homens (Mateus 10.17). Ademais, lemos ainda:

Prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza. 
(2Pedro 3.17)

Para finalizar, o Senhor Jesus aduziu este precioso conselho:

Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. 
(Mateus 10.16)


O diabo

Satanás também tenta o homem. Os não convertidos estão em seu poder. O diabo governa sobre eles, que são prisioneiros de sua vontade. Ele exerce todo o seu poder para fazer com que os crentes venham a cair em tentações. Outrossim, ele leva o nome de tentador (Mateus 4.3), inimigo (Mateus 13.39), adversário (1Pedro 5.8) e diabo (Tiago 4.7). Destarte, suas tentações mais sutis são referidas como ciladas (Efésios 6.11).

Ele procura descobrir aonde o crente é vulnerável; e, baseado nisso, apresenta suas tentações. Não seria razoável ele fomentar suas tentações com todos, uma vez que não seria muito eficaz. Ele conhece a estrutura do homem, bem como a sua vulnerabilidade; ele sabe qual é o pecado mais suscetível de ser cometido, sabe as circunstâncias e a ocasião em que iremos cometê-lo. Juntamente com isso, ele lança pensamentos e imagens em nossa mente, na tentativa de nos fazer cogitar tais pensamentos, estimulando nossos desejos pecaminosos através destas reflexões.

No momento oportuno, ele irá criar situações que sabe que temos caído frequentemente. Então, quando a alma estiver desesperada, prestes a ruir em pecado, ele tentará seduzi-la para um próximo pecado. Ele sabe como disfarçar bem o pecado de maneira sutil, apresentando-o de maneira tão desejável que a nossa vontade é completamente excitada. No início, o pecado estimula o homem, instando-o de tal modo para que não tenha tempo de direcionar um pensamento sequer com respeito a Deus. Uma vez que o pecado foi cometido, ele tenta levar a pessoa ao desespero, ao sugerir:

“Uma vida assim não pode coexistir com a graça. Você não é nascido de novo. Você não tem a fé verdadeira. Não há graça para você. Seu pecado é muito grande. Você deve ter cometido o pecado contra o Espírito Santo. Após isso, ele vai aterrorizá-lo de várias maneiras”.

Contudo, nós temos que saber isto: o diabo não pode coagir o homem a pecar. Tudo o que ele pode fazer é imbuir, seduzir, criar situações. Logo, o próprio homem é responsável pelos pecados que comete, não podendo, assim, culpar o diabo. Ademais, nem sempre o diabo é o tentador; antes, é o próprio homem que geralmente inicia o pecado.



por Wilhelmus à Brakel
Trecho extraído de The Christian’s Reasonable Service, volume 3, pág 576-578

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Por que não construímos templos?


A velha e nova aliança

  • Cremos que não apenas temos que ter a Bíblia como nossa base de fé, mas também precisamos fazer diferença entre as duas alianças.
  • Se fôssemos praticar tudo o que ensina o Velho Testamento estaríamos em grande confusão. Teríamos que sacrificar animais, guardar o sábado, apedrejar adúlteros e outras coisas mais. Então nossa regra de fé é baseada no NT, muito mais que no VT.
  • E precisamos entender quais coisas mudaram com a nova aliança.

Onde começa a nova aliança?

  • Começa quando Jesus a propõe na última ceia. Ali ela é virtualmente instaurada. Entra em vigor com sua morte, ressurreição, ascensão e com a descida do Espírito Santo.
  • Ou seja: Jesus viveu no período onde a velha aliança era vigente. Por isso ele chamou o templo de Jerusalém de "casa de meu pai" (Lc 2.49).
  • Jesus era judeu e viveu como tal, obedecendo toda a lei de Moisés.
  • Se o fato de que Jesus referendou o templo judaico fosse uma prova de que deveríamos ter templos ainda hoje, então também teríamos que praticar a circuncisão, pois Jesus foi circuncidado (Lc 2.21).
  • Então. Jesus referendou o templo como casa de seu Pai, porque ele era judeu e viveu no tempo e contexto da velha aliança.
  • Em conversa com a mulher samaritana ele disse que haveria uma mudança radical quanto ao lugar de culto. A mulher perguntou onde era o lugar certo para adoração (Jo 4.19). Jesus respondeu que esta questão de lugar para adoração estava para mudar. Disse que não seria mais uma questão de local, mas de atitude espiritual (Jo 4.21-24).

Como foi a prática da igreja logo após o pentecostes? Em Jerusalém

  • EM JERUSALÉM At 2.46; 5.42 – No templo e de casa em casa.
  • Aqui o Espírito Santo começa a dirigir a igreja a reunir-se nas casas. Ali poderia haver maior comunhão, entrelaçamento de vidas, ambiente informal mais propício ao evangelismo, etc.
  • Eles também iam diariamente ao templo. Mas em que parte do templo? Aquele templo não era como os templos modernos com bancos voltados para um púlpito. O templo judeu tinha o “Santo dos Santos”, onde somente o sumo sacerdote podia entrar, o “Lugar Santo”, onde entravam os demais sacerdotes, e o Átrio onde o povo podia entrar. Mas este átrio era exclusivo para o uso dos costumes judaicos. A igreja não se reunia ali. Onde então eles se encontravam? No pórtico de Salomão (At 5.12). Era um lugar público onde as pessoas podiam passear (Jo 10.23), e acorriam (At 3.11). Não era um lugar para o culto judaico. Era onde os cambistas vendiam os animais e Jesus derrubou as suas mesas. Ali, neste lugar público, a igreja costumava encontrar-se. Os apóstolos haviam visto o exemplo de Jesus que durante seus três anos de ministério esteve sempre onde o povo estava e não em lugares fechados.
  • Vemos, portanto, que a igreja em Jerusalém nunca usou um templo nos moldes como a igreja o faz nos dias de hoje. Nunca viu um lugar assim, não sentiu necessidade, nem sequer o imaginou. Impactaram Jerusalém sem comprar um único tijolo.

Resumindo: Eles se reuniam nas casas e em um lugar público chamado “Pórtico de Salomão”.


No mundo gentil (depois que a igreja se espalhou por vários países).

  • Nunca mais se houve falar em templos. Importante: nunca mais! Não há um só texto, uma única referencia, nem a construir, nem a comprar templos. Leia Atos e as cartas. Não se fala mais em templos.
  • Eles se reúnam basicamente nas casas (Rm 16.5, 10, 11; 1Co 16.15, 19; Fp 4.22, Cl 4.15; Fm 1.2)
  • Os apóstolos entenderam que era hora de aplicar a verdade completa que já estava anunciada no VT. At 7.48; 17.24
  • Não é de estranhar que nós demos muita importância àquilo que os apóstolos nunca deram? Eles nunca falaram. Nunca construíram. Nunca usaram. Nunca se preocuparam com isto! Porque nós nos preocupamos com algo que não existia na vida da igreja primeira que foi modelo para todas as gerações que viriam depois?

De onde surgiram os Templos?

  • Por séculos a igreja seguiu crescendo e se edificando sem nem mesmo pensar em construir templos.
  • No terceiro século, quando o Imperador Constantino decretou o cristianismo como religião oficial do estado romano e batizou todo o seu exército à força, a igreja deixou de ser um lugar de novo nascimento para os arrependidos e sedentos pela vida eterna, para ser uma religião formal, estatal, obrigatória e sem vida espiritual. Começou aí uma grande decadência, uma série de invenções e distorções humanas que afastaram a igreja do ensino de Jesus e dos apóstolos.
  • Uma dessas invenções foi o uso do templo. Era uma imitação do judaísmo e das religiões pagãs que tinham seus templos e lugares santos. Faz parte dos desvios da igreja que foram muitos.
  • Por ocasião da reforma, muitas coisas da fé antiga foram recuperadas. As principais delas foram a justificação pela fé (Lutero) e a santificação dos que foram chamados (puritanos, anabatistas, metodistas, etc.). Entretanto esta herança católica do uso dos templos nunca foi avaliada pela reforma.
  • Há ainda outros aspectos que nunca foram recuperados. Por séculos, a igreja ainda tem vivido à parte de verdades tais como: Evangelho do Reino (Mt 4.17, 23; 9.35; 24.14; Lc 4.43; 8.1; 16.16; At 8.12;19.8: 20.25); O corpo crescendo por meio das juntas e ligamentos (Ef 4.15-16; Cl 2.19); a pluralidade de ministérios (1Co 12.28; Ef 4.11); o que é um verdadeiro discípulo – seguidor – de Cristo (Lc 14.26, 27, 33; Jo 8.31; 13.34-35; 15.8) e muitas outras coisas mais.
  • Nós não somos e nem devemos ser seguidores de uma reforma religiosa, e muito menos do atual contexto evangélico decadente e imiscuído. Queremos seguir a Jesus e seus primeiros apóstolos. O que eles fizeram, queremos crer e fazer. O que eles não fizeram não queremos fazer, ainda que a igreja inteira o faça. Eles não usaram templos. Nós também não vamos usar.

Porque o Espírito Santo conduziu a igreja às casas e não aos templos?

  • Porque Deus não habita em templos feitos por mãos humanas.
  • Porque Deus revelou que não há mais um lugar de adoração.
  • Porque Deus quer verdadeiro amos entre seus filhos. Os templos são impessoais. As pessoas se reúnem ali e depois vão embora para suas casas sem participarem da vida uns dos outros. Ninguém sabe como os outros estão vivendo, seus problemas, aflições, necessidades. Não há serviço de uns para com os outros, oração, amparo, socorro aos necessitados. Cada um se encontra naquele lugar, tem momentos de vida muito “espiritual” e logo voltam para suas casas e vidinha independente. É cada um por si. Quando a igreja se reúne nas casas, os grupos são obrigatoriamente pequenos. Portanto há verdadeira comunhão, conhecimento, participação, mutua dependência, socorro, ensino para cada situação particular e dezenas de outras coisas mais.
  • Porque nos templos ninguém conhece como é a vida de cada um. É fácil demais ser espiritual ali. Mas ninguém sabe como está cada um, com sua esposa, seus filhos, seus pais. Desenvolve-se uma vida espiritual de fachada. Os templos trazem a vida de fé para fora da realidade diária das pessoas. Geram uma dicotomia entre a vida espiritual e domingueira e a vida diária e secular. Cooperam com a formação de “fariseus”. Ao reunirmos nas casas estamos casando o dia a dia com o culto a Deus, a vida real com a espiritual. Reunir nas casas coopera com a autenticidade.
  • Porque os templos são formais e frios. As casas são aconchegantes, lugar normal da vida, lugar onde Deus abençoa todos os dias e não apenas na reunião.
  • Os templos exigem um gasto irracional. Não sobram recursos para ajudar aos necessitados (como vemos em Atos). As casas, por outro lado, já estão construídas. Já têm banheiro, lugar para deixar um bebê dormindo, cadeiras, sofás, água para todos, etc. Os recursos podem então ser canalizados para necessidades reais e justa.


por Marcos Moraes
Fonte: www.fazendodiscipulos.com.br

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

E esse tal de feminismo?

Resultado de imagem para V-J Day in Times Square

A fotografia todo mundo conhece. V-J Day in Times Square é aquela famosa imagem de um marinheiro norte-americano beijando uma jovem enfermeira naquela famosa avenida de Nova York. Essa mesma que ilustra o texto. A foto correu o mundo em 1945 através de uma edição da Revista Time transformando o beijo de dois desconhecidos em símbolo da alegria popular pelo fim da II Guerra Mundial. Da foto nasceu uma escultura de 7 metros de altura que se encontra hoje instalada em San Diego, Estados Unidos. É uma bela foto e também uma bela escultura, mas … Em 2014 um grupo feminista francês chamado Osez Le Feminisme, abriu uma petição pública exigindo que a escultura icônica fosse removida de uma exposição por se tratar, segundo o grupo, do registro de uma agressão sexual, de um crime, uma vez que o marinheiro não tinha o direito de beijar a enfermeira, mesmo ela tendo comentado que havia gostado do beijo. Ces la vie! Reportagem aqui.

Por essas e outras histórias (e estórias), o feminismo – nome popular para o Movimento de Emancipação das Mulheres, entrou na pauta das discussões dos principais meios de produção de conhecimento, assim como entrou também nas discussões mais corriqueiras da cultura através dos principais jornais, revistas e desenhos infantis de nossa época. Feminismo é conversa séria de programas transmitidos no começo de uma tarde dominical como aconteceu no programa da Regina Casé que teve como pautas assuntos como assédio moral, violência física, mercado profissional, autonomia econômica, estética feminina depois de uma chamada da apresentadora de que “as mulheres estão cansadas de serem tratadas como cidadãs de segundo classe”.

Mas entender o feminismo significa ter presente os diferentes momentos pelos quais passou a construção de suas diferentes identidades. Historiadores não estão bem certos se podemos falar de um movimento unívoco com uma epistemologia própria ou se o feminismo na verdade seria um fenômeno com o agrupamento de muitos movimentos de diferentes ideias e ações. Para maioria, a segunda posição é a mais adequada, pois, segundo eles, poderíamos no máximo captar características comuns dos diferentes feminismos. Isso porque, mesmo havendo uma gramática de reivindicações parcialmente comum conforme a época e as principais vozes, há divergências no modo como as reivindicações poderiam ser alcançadas a partir do ponto da justificativa do problema. Há feminismos de orientação individualista, liberal, radical ou marxista. E o modo como se organizam e as bandeiras que levantam como problemas fundacionais mudam sutilmente sua identidade cultural.

No Brasil os feminismos de vieses marxista e psicanalíticos parecem sobressair sobre os demais. Inclusive, parecem mesmo se inter-relacionarem. Os argumentos giram no sentido da importância do gênero e da luta de classes, analisando os modos como dois eixos paralelos, economia (capitalismo) e família (patriarcado) estruturam a vida das mulheres. Uma perspectiva ético-racial também tem ganhado força nos últimos dias. Por sua vez, as feministas de tendências psicanalíticas centram suas discussões na sexualidade como uma poderosa força cultural e ideológica ao postularem que as mulheres são oprimidas pelo fato desta força cultural ideológica da diferença sexual estar inscrita nos corpos e no inconsciente.

Mesmo não havendo espaço aqui para detalhar os vários períodos e identidades do feminismo, vale destacar a importância da sua primeira fase, nascida ali no século XVIII com a Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, de Olympe de Gouges. Este é um período onde as mulheres não podiam assinar contratos, herdar propriedades, contratar advogados, votar e ter direitos sobre os filhos. Pelas leis da Inglaterra, por exemplo, o marido e a mulher eram uma só pessoa jurídica e a existência legal da mulher estava constituída na pessoa do marido, cuja a asa, proteção e tampa, ela executava a maioria das coisas do domínio público. A complexificação da sociedade demandava maior participação das mulheres na cena pública e um “novo homem” se constituía em sociedade através da ideia de cidadão. Era mais do que necessário que as mulheres se apresentassem marcando que este “novo homem” na verdade era homem e mulher. Neste estágio inicial, o movimento das mulheres se concentrou no sufrágio e se manteve inter-relacionado ao Movimento de Temperança (movimento de mulheres conservadoras pouco comentado pelos compêndios feministas) e ao Movimento Abolicionista. Este talvez seja o momento mais profícuo e importante das reivindicações femininas como movimento. Era onde nascia o modelo de sociedade e cidadania tal como a conhecemos e onde a bandeira da igualdade não se articulava sobre um discurso de oposição entre homens e mulheres, tal como vemos nos últimos dias.

Na teologia, segundo Ivone Gebara, freira católica, filósofa e teóloga feminista brasileira, a teologia feminista se tornou parte de uma revolução cultural que, segundo ela, ainda está em seus primeiros passos, tendo se desenvolvido a partir da segunda metade do século 20 inicialmente em alguns países da Europa Ocidental e nos Estados Unidos e a partir de 1980 na América Latina, África e Ásia, muito na esteira do espírito revolucionário presente na Teologia da Libertação. A trabalho das teólogas feministas, parte do ponto de que há uma dominação do ídolo divino masculino que marca e limita a vida das mulheres e o principal desafio dessa teologia é introduzir a metodologia da suspeita e da desconstrução de conceitos teológicos (Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, Pecado, Bem e Mal, Encarnação, Redenção e outros) verificando a origem e a pertinência em relação à experiência histórica e feminina. Esse trabalho é feito através da investigação dos textos da Bíblia considerados Palavra de Deus e da denúncia do mau uso do texto em vista da execução de políticas que favorecem a uns e desfavorecem a outros. Tudo na redução dualista de uma oposição em eventos que sempre podem apontar alguma trapaça. Não pode dar certo algo que começa pela pura suspeita e desconstrução, pode?! Aqui estamos na segunda para a terceira fase do momento feminista. Onde o discurso começa a pesar pela radicalidade de algumas posições.

Vejamos o que falou a feminista cristã Mary Daly, na faculdade de teologia da Universidade de Harvard: “indo direto ao assunto, proponho que castremos o Cristianismo e joguemos fora os frutos da sua arrogância masculina: os mitos do pecado e da salvação, que são simplesmente sintomas diferentes da mesma doença… Minha opinião é que a ideia de que a salvação veio ao mundo exclusivamente através de um salvador masculino perpetua o problema da opressão dos homens sobre as mulheres… o que está acontecendo hoje é que as mulheres estão se rebelando para castrar o sistema masculino que as castra e coloca Deus como “Pai” de todas as pessoas”. Outra disse ainda: “se a religião cristã não dá às mulheres recursos espirituais e intelectuais para que elas sintam satisfação em ter um emprego fora de casa, então talvez precisemos eliminar as imagens de família que enchem a Bíblia – começando com Deus como Pai e sua semelhança terrena, o pai de família”. Essas duas falas se encontram no livro De Volta ao Lar: do feminismo a realidade de Mary Pride e as suas escolhas se apresentam como uma tentativa de chamar atenção para o perigo da adoção de certas posições sem uma crítica adequada do assunto.

Susan T. Foh, em seu livro Women and the Word of God: A Response to Biblical Feminism, traduz essas falas de forma bastante perspicaz. Diz ela: “a questão mais importante que as feministas evangélicas debatem é de que modo a Bíblia deve ser interpretada… Elas acham que já a Bíblia foi escrita numa cultura onde a liderança pertencia totalmente ao pai de família, essa cultura influenciou os escritores da Bíblia a ter preconceitos contra os direitos das mulheres… De acordo com essa maneira de ver, há falhas e contradições na Bíblia. Aliás, essa opinião exalta a razão humana, pela qual o ser humano decide o que é e o que não é a palavra de Deus…. Para resumir, as feministas evangélicas veem contradições irreconciliáveis nos ensinos da Bíblia sobre as mulheres. Elas resolvem essas contradições reconhecendo que a Bíblia reflete as limitações humanas… as feministas evangélicas não acreditam que Deus nos deu sua palavra, que é verdadeira e digna de confiança, padrão imutável de fé e prática. Para elas, a Bíblia é uma mistura de informações (parte é a pura Palavra de Deus e parte sãos somente conselhos de homens moldados por sua cultura machista), e Deus nos deu a liberdade para imaginar quais as partes em que devemos acreditar e obedecer. A razão humana se torna a autoridade suprema, o juiz da Bíblia”. Onde ficou o critério de verdade em posições como essas?

Assim, podemos ensaiar uma primeira pergunta: é possível ser uma feminista cristã? Primeira coisa é entendermos que as crenças e convicções dentro do feminismo são muitos amplas, variadas e em alguns momentos contraditórias para que nos permita um julgamento final. Ideologias feministas se mostraram boas, neutras ou ruins, dependendo da especificidade da reivindicação quando colocada diante das crenças fundamentais da bíblia e de uma boa teologia moral e prática.

As boas e neutras e que aparecem nas reivindicações feministas mais antigas são aquelas que dizem respeito às mulheres serem respeitadas por si mesmas, sustentarem seus filhos, a terem direito sobre eles e serem respeitadas na situação de viuvez ou divórcio. Ensinamentos e ações de Jesus sinalizaram o respeito que as mulheres deveriam receber. Ele perdoou as mulheres de má reputação (João 8:1-11), falou respeitosamente a mulher samaritana (João 4: 4-42) e interagiu com uma mulher impura (Mateus 9:20-22). Paulo também fez o reconhecimento de 10 mulheres em 26 pessoas que nomeou no capítulo 16 da carta aos Romanos, além de chamar primeiro Priscila, esposa de Áquila, para publicamente agradecer-lhes a própria vida. Tanto Paulo quanto Jesus realizando aqui ações em franco desacordo com o sistema religioso da época sem, no entanto, deixar de denunciar o pecado das condutas individuais das mulheres, assim também, como fazia com os homens. O que não ocorre em nossos dias, por exemplo. Falar de erro dentro de feminismo em vista de uma fala ou ação claramente demarcada é falta de sororidade ou método de desmerecimento do movimento. Pecado mortal e sem direito a perdão! Se houver ainda alguma dor ou trauma relacionado… esquece. Não há diálogo. Está tudo justificado, inclusive, com a imposição normativa do silêncio do outro. Faça da sua dor, a sua lutaé o mote. Mas quem sabe chegará o dia que descobrirão que a dor não é um bom juiz e que sexo masculino e abusador não são necessariamente uma e mesma coisa?

Entre as ideologias ruins, pode-se destacar a crença de que as mulheres são mais importantes do que os homens (feminismo radical/ Matriarcado) e a de que mulheres e homens não teriam identidades (feminismo queer) orientadas já no evento da criação de Adam/Adão (homem e mulher), lá nos primórdios da humanidade. Essas são prerrogativas inquestionavelmente anticristãs mesmo que hajam grupos propondo leituras mais pluralistas desses e de outros princípios. Será mesmo que tudo é construção social e a identidade de gênero, a orientação sexual, o sexo biológico e o papel de gênero são coisas não-coincidentes e más às engrenagens sociais? Alas do atual feminismo, ou do pós feminismo para alguns, dizem que sim, como é o caso de Judith Butler, mas antropólogos como Mary C. Kuhn e Steven L. Stiner, da Universidade do Arizona, acreditam que foi exatamente a divisão de tarefas entre homens e mulheres que fizeram com que o homo sapiens vencesse os neandertais na luta pela sobrevivência. Há benefícios fáticos na família tal como a conhecemos e exceções devem ser tratadas como exceções e não como regras. Isso vale para ciências, mas também vale para os comportamentos. Também não podemos mais desconsiderar as descobertas vindas de áreas associadas às ciências biológicas sempre muito pouco comentadas nas discussões de moralidade e política. Não se enganem, há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõem nossas vãs ciências sociais.

Com isso, assim como acontece a qualquer movimento, grupo político ou teoria, devemos julgar suas ações e mensagens por seus próprios méritos. Devemos julgar por aquilo que é dito em bloco e em seu próprio tempo, além claro, de julgar ações e mensagens individuais daqueles que postulam ser seus representantes. O que o feminismo diz defender em nossos dias? Quais os meios têm sido usados? Este é um dado importante. Avaliadas essas questões, se você acha que há ações e meios que possam ser legitimados em vista do tempo, das pessoas envolvidas e independentes da compreensão bíblica avaliada, testada, balizada e consensuada pela tradição, formada por homens e mulheres, sinto muito, mas talvez você esteja mais pautada por uma visão feminista de mundo do que uma visão cristã do mundo e do feminismo. Sabe aquela história de que ‘sou contra o aborto, mas acho que deveria ser legalizado de forma irrestrita por causa das mulheres pobres’? Enfim, vale pensar, repensar, avaliar, colocar diante da história chamada eternidade e pedir que Deus seja gracioso com todos nós. E se nosso comportamento nos revelar um referencial mais atrelado à queda do que à salvação em Cristo? Melhor será corrigir. Que sejamos luz e sal em um mundo gritando por soluções, mas perdido em suas discussões e problemas.



por Isabella Passos

E esse tal de feminismo?


A fotografia todo mundo conhece. V-J Day in Times Square é aquela famosa imagem de um marinheiro norte-americano beijando uma jovem enfermeira naquela famosa avenida de Nova York. Essa mesma que ilustra o texto. A foto correu o mundo em 1945 através de uma edição da Revista Time transformando o beijo de dois desconhecidos em símbolo da alegria popular pelo fim da II Guerra Mundial. Da foto nasceu uma escultura de 7 metros de altura que se encontra hoje instalada em San Diego, Estados Unidos. É uma bela foto e também uma bela escultura, mas … Em 2014 um grupo feminista francês chamado Osez Le Feminisme, abriu uma petição pública exigindo que a escultura icônica fosse removida de uma exposição por se tratar, segundo o grupo, do registro de uma agressão sexual, de um crime, uma vez que o marinheiro não tinha o direito de beijar a enfermeira, mesmo ela tendo comentado que havia gostado do beijo. Ces la vie! Reportagem aqui.

Por essas e outras histórias (e estórias), o feminismo – nome popular para o Movimento de Emancipação das Mulheres, entrou na pauta das discussões dos principais meios de produção de conhecimento, assim como entrou também nas discussões mais corriqueiras da cultura através dos principais jornais, revistas e desenhos infantis de nossa época. Feminismo é conversa séria de programas transmitidos no começo de uma tarde dominical como aconteceu no programa da Regina Casé que teve como pautas assuntos como assédio moral, violência física, mercado profissional, autonomia econômica, estética feminina depois de uma chamada da apresentadora de que “as mulheres estão cansadas de serem tratadas como cidadãs de segundo classe”.

Mas entender o feminismo significa ter presente os diferentes momentos pelos quais passou a construção de suas diferentes identidades. Historiadores não estão bem certos se podemos falar de um movimento unívoco com uma epistemologia própria ou se o feminismo na verdade seria um fenômeno com o agrupamento de muitos movimentos de diferentes ideias e ações. Para maioria, a segunda posição é a mais adequada, pois, segundo eles, poderíamos no máximo captar características comuns dos diferentes feminismos. Isso porque, mesmo havendo uma gramática de reivindicações parcialmente comum conforme a época e as principais vozes, há divergências no modo como as reivindicações poderiam ser alcançadas a partir do ponto da justificativa do problema. Há feminismos de orientação individualista, liberal, radical ou marxista. E o modo como se organizam e as bandeiras que levantam como problemas fundacionais mudam sutilmente sua identidade cultural.

No Brasil os feminismos de vieses marxista e psicanalíticos parecem sobressair sobre os demais. Inclusive, parecem mesmo se inter-relacionarem. Os argumentos giram no sentido da importância do gênero e da luta de classes, analisando os modos como dois eixos paralelos, economia (capitalismo) e família (patriarcado) estruturam a vida das mulheres. Uma perspectiva ético-racial também tem ganhado força nos últimos dias. Por sua vez, as feministas de tendências psicanalíticas centram suas discussões na sexualidade como uma poderosa força cultural e ideológica ao postularem que as mulheres são oprimidas pelo fato desta força cultural ideológica da diferença sexual estar inscrita nos corpos e no inconsciente.

Mesmo não havendo espaço aqui para detalhar os vários períodos e identidades do feminismo, vale destacar a importância da sua primeira fase, nascida ali no século XVIII com a Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, de Olympe de Gouges. Este é um período onde as mulheres não podiam assinar contratos, herdar propriedades, contratar advogados, votar e ter direitos sobre os filhos. Pelas leis da Inglaterra, por exemplo, o marido e a mulher eram uma só pessoa jurídica e a existência legal da mulher estava constituída na pessoa do marido, cuja a asa, proteção e tampa, ela executava a maioria das coisas do domínio público. A complexificação da sociedade demandava maior participação das mulheres na cena pública e um “novo homem” se constituía em sociedade através da ideia de cidadão. Era mais do que necessário que as mulheres se apresentassem marcando que este “novo homem” na verdade era homem e mulher. Neste estágio inicial, o movimento das mulheres se concentrou no sufrágio e se manteve inter-relacionado ao Movimento de Temperança (movimento de mulheres conservadoras pouco comentado pelos compêndios feministas) e ao Movimento Abolicionista. Este talvez seja o momento mais profícuo e importante das reivindicações femininas como movimento. Era onde nascia o modelo de sociedade e cidadania tal como a conhecemos e onde a bandeira da igualdade não se articulava sobre um discurso de oposição entre homens e mulheres, tal como vemos nos últimos dias.

Na teologia, segundo Ivone Gebara, freira católica, filósofa e teóloga feminista brasileira, a teologia feminista se tornou parte de uma revolução cultural que, segundo ela, ainda está em seus primeiros passos, tendo se desenvolvido a partir da segunda metade do século 20 inicialmente em alguns países da Europa Ocidental e nos Estados Unidos e a partir de 1980 na América Latina, África e Ásia, muito na esteira do espírito revolucionário presente na Teologia da Libertação. A trabalho das teólogas feministas, parte do ponto de que há uma dominação do ídolo divino masculino que marca e limita a vida das mulheres e o principal desafio dessa teologia é introduzir a metodologia da suspeita e da desconstrução de conceitos teológicos (Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, Pecado, Bem e Mal, Encarnação, Redenção e outros) verificando a origem e a pertinência em relação à experiência histórica e feminina. Esse trabalho é feito através da investigação dos textos da Bíblia considerados Palavra de Deus e da denúncia do mau uso do texto em vista da execução de políticas que favorecem a uns e desfavorecem a outros. Tudo na redução dualista de uma oposição em eventos que sempre podem apontar alguma trapaça. Não pode dar certo algo que começa pela pura suspeita e desconstrução, pode?! Aqui estamos na segunda para a terceira fase do momento feminista. Onde o discurso começa a pesar pela radicalidade de algumas posições.

Vejamos o que falou a feminista cristã Mary Daly, na faculdade de teologia da Universidade de Harvard: “indo direto ao assunto, proponho que castremos o Cristianismo e joguemos fora os frutos da sua arrogância masculina: os mitos do pecado e da salvação, que são simplesmente sintomas diferentes da mesma doença… Minha opinião é que a ideia de que a salvação veio ao mundo exclusivamente através de um salvador masculino perpetua o problema da opressão dos homens sobre as mulheres… o que está acontecendo hoje é que as mulheres estão se rebelando para castrar o sistema masculino que as castra e coloca Deus como “Pai” de todas as pessoas”. Outra disse ainda: “se a religião cristã não dá às mulheres recursos espirituais e intelectuais para que elas sintam satisfação em ter um emprego fora de casa, então talvez precisemos eliminar as imagens de família que enchem a Bíblia – começando com Deus como Pai e sua semelhança terrena, o pai de família”. Essas duas falas se encontram no livro De Volta ao Lar: do feminismo a realidade de Mary Pride e as suas escolhas se apresentam como uma tentativa de chamar atenção para o perigo da adoção de certas posições sem uma crítica adequada do assunto.

Susan T. Foh, em seu livro Women and the Word of God: A Response to Biblical Feminism, traduz essas falas de forma bastante perspicaz. Diz ela: “a questão mais importante que as feministas evangélicas debatem é de que modo a Bíblia deve ser interpretada… Elas acham que já a Bíblia foi escrita numa cultura onde a liderança pertencia totalmente ao pai de família, essa cultura influenciou os escritores da Bíblia a ter preconceitos contra os direitos das mulheres… De acordo com essa maneira de ver, há falhas e contradições na Bíblia. Aliás, essa opinião exalta a razão humana, pela qual o ser humano decide o que é e o que não é a palavra de Deus…. Para resumir, as feministas evangélicas veem contradições irreconciliáveis nos ensinos da Bíblia sobre as mulheres. Elas resolvem essas contradições reconhecendo que a Bíblia reflete as limitações humanas… as feministas evangélicas não acreditam que Deus nos deu sua palavra, que é verdadeira e digna de confiança, padrão imutável de fé e prática. Para elas, a Bíblia é uma mistura de informações (parte é a pura Palavra de Deus e parte sãos somente conselhos de homens moldados por sua cultura machista), e Deus nos deu a liberdade para imaginar quais as partes em que devemos acreditar e obedecer. A razão humana se torna a autoridade suprema, o juiz da Bíblia”. Onde ficou o critério de verdade em posições como essas?

Assim, podemos ensaiar uma primeira pergunta: é possível ser uma feminista cristã? Primeira coisa é entendermos que as crenças e convicções dentro do feminismo são muitos amplas, variadas e em alguns momentos contraditórias para que nos permita um julgamento final. Ideologias feministas se mostraram boas, neutras ou ruins, dependendo da especificidade da reivindicação quando colocada diante das crenças fundamentais da bíblia e de uma boa teologia moral e prática.

As boas e neutras e que aparecem nas reivindicações feministas mais antigas são aquelas que dizem respeito às mulheres serem respeitadas por si mesmas, sustentarem seus filhos, a terem direito sobre eles e serem respeitadas na situação de viuvez ou divórcio. Ensinamentos e ações de Jesus sinalizaram o respeito que as mulheres deveriam receber. Ele perdoou as mulheres de má reputação (João 8:1-11), falou respeitosamente a mulher samaritana (João 4: 4-42) e interagiu com uma mulher impura (Mateus 9:20-22). Paulo também fez o reconhecimento de 10 mulheres em 26 pessoas que nomeou no capítulo 16 da carta aos Romanos, além de chamar primeiro Priscila, esposa de Áquila, para publicamente agradecer-lhes a própria vida. Tanto Paulo quanto Jesus realizando aqui ações em franco desacordo com o sistema religioso da época sem, no entanto, deixar de denunciar o pecado das condutas individuais das mulheres, assim também, como fazia com os homens. O que não ocorre em nossos dias, por exemplo. Falar de erro dentro de feminismo em vista de uma fala ou ação claramente demarcada é falta de sororidade ou método de desmerecimento do movimento. Pecado mortal e sem direito a perdão! Se houver ainda alguma dor ou trauma relacionado… esquece. Não há diálogo. Está tudo justificado, inclusive, com a imposição normativa do silêncio do outro. Faça da sua dor, a sua lutaé o mote. Mas quem sabe chegará o dia que descobrirão que a dor não é um bom juiz e que sexo masculino e abusador não são necessariamente uma e mesma coisa?

Entre as ideologias ruins, pode-se destacar a crença de que as mulheres são mais importantes do que os homens (feminismo radical/ Matriarcado) e a de que mulheres e homens não teriam identidades (feminismo queer) orientadas já no evento da criação de Adam/Adão (homem e mulher), lá nos primórdios da humanidade. Essas são prerrogativas inquestionavelmente anticristãs mesmo que hajam grupos propondo leituras mais pluralistas desses e de outros princípios. Será mesmo que tudo é construção social e a identidade de gênero, a orientação sexual, o sexo biológico e o papel de gênero são coisas não-coincidentes e más às engrenagens sociais? Alas do atual feminismo, ou do pós feminismo para alguns, dizem que sim, como é o caso de Judith Butler, mas antropólogos como Mary C. Kuhn e Steven L. Stiner, da Universidade do Arizona, acreditam que foi exatamente a divisão de tarefas entre homens e mulheres que fizeram com que o homo sapiens vencesse os neandertais na luta pela sobrevivência. Há benefícios fáticos na família tal como a conhecemos e exceções devem ser tratadas como exceções e não como regras. Isso vale para ciências, mas também vale para os comportamentos. Também não podemos mais desconsiderar as descobertas vindas de áreas associadas às ciências biológicas sempre muito pouco comentadas nas discussões de moralidade e política. Não se enganem, há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõem nossas vãs ciências sociais.

Com isso, assim como acontece a qualquer movimento, grupo político ou teoria, devemos julgar suas ações e mensagens por seus próprios méritos. Devemos julgar por aquilo que é dito em bloco e em seu próprio tempo, além claro, de julgar ações e mensagens individuais daqueles que postulam ser seus representantes. O que o feminismo diz defender em nossos dias? Quais os meios têm sido usados? Este é um dado importante. Avaliadas essas questões, se você acha que há ações e meios que possam ser legitimados em vista do tempo, das pessoas envolvidas e independentes da compreensão bíblica avaliada, testada, balizada e consensuada pela tradição, formada por homens e mulheres, sinto muito, mas talvez você esteja mais pautada por uma visão feminista de mundo do que uma visão cristã do mundo e do feminismo. Sabe aquela história de que ‘sou contra o aborto, mas acho que deveria ser legalizado de forma irrestrita por causa das mulheres pobres’? Enfim, vale pensar, repensar, avaliar, colocar diante da história chamada eternidade e pedir que Deus seja gracioso com todos nós. E se nosso comportamento nos revelar um referencial mais atrelado à queda do que à salvação em Cristo? Melhor será corrigir. Que sejamos luz e sal em um mundo gritando por soluções, mas perdido em suas discussões e problemas.



por Isabella Passos

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